Autores: Gabriel Reis, Thais G. Flor, Giovanna S. de Gouveia, Rafaela D. Oliveira, Victor L. S. dos Anjos, Mayara C. S. Silva e Emeli M. de Araújo.
Atualmente o consumo de produtos para animais domésticos (Pets) está em alta. No Brasil 44% das residências possuem cães e/ou gatos (Wagemaker, 2019), estimando-se aproximadamente 130 milhões de animais de estimação, com isso o Brasil ocupa o terceiro lugar nos mercados de pets no mundo (CNDL e SPC, 2017).
Hoje em dia é possível encontrar no mercado produtos cosméticos exclusivos para animais, tais como xampus clareadores, máscaras de tratamentos, banhos relaxantes, desembaraçantes, linhas específicas para filhotes, entre outros (Wagemaker, 2019).
Em uma pesquisa realizada com pessoas residentes nas 27 capitais do Brasil relataram que os três itens mais importantes para os seus animais de estimação são: a alimentação saudável (79,2%), cuidados com a saúde (78,8%) e confortos para dormir (57,6%).
Dos produtos mais comprados no dia a dia para cães e gatos, os xampus e condicionadores ficam em segundo lugar e 13% dos donos de pets afirmam fazer o uso frequentemente de tratamentos estéticos em seus animais, enquanto 8% afirmam utilizar serviços de dermatologia (CNDL e SPC, 2017).
Dentre os procedimentos estéticos que existem destacam-se: banho, hidratação dos pelos, penteados (tanto na cabeça do animal, quanto no resto do corpo – nestes muitas vezes são utilizados chapinha e babyliss), pintura e corte dos pelos e das unhas dos pets.
É importante ressaltar que não é recomendado o uso de procedimentos puramente estéticos como o alisamento, tintura, manicure, ou até mesmo hidratação em excesso, pelo fato da pele do animal ser mais sensível e certos produtos possam provocar riscos para a saúde do animal. O dono deve sempre se manter atento caso seu animal manifeste algum sinal de alergia e sempre fazer o acompanhamento de um médico veterinário.
Fisiologia da pele de cães e gatos
Apesar da espessura da pele animal variar entre espécies, raças e idade, a pele de cachorros e gatos costuma ser mais fina do que a de humanos, isso porque há uma inversa relação entre a densidade de pelos e a espessura da epiderme. A renovação celular da pele destes animais também é mais lenta que a humana e possui menor presença de ceramidas, e estes três fatores combinados fazem com que os produtos cosméticos penetrem com maior facilidade em sua pele ao passo que seu tempo de permanência neste tecido também seja maior, desta forma, um produto inapropriado pode levar prejuízo a pele animal, podendo levar a irritações e descamações.
Os pêlos são anexos cutâneos e têm função de proteção térmica, solar, além de ser um importante instrumento sensorial. Uma característica bastante peculiar dos animais domésticos é que diferente do ser humano, sua troca de de pelos possui sazonalidade, renovando-se em épocas específicas do ano, além disso, possuem três isoformas de melanina, enquanto o ser humano possui somente duas.
Os folículos pilosos, onde o pêlo se forma, são compostos por folículos primários e secundários, o segundo rodeando o primeiro. Ambos os tipos de pêlos possuem glândulas sebáceas, isso faz com que esta glândula esteja presente em toda superfície animal com pêlo, sendo maiores e mais numerosas nas regiões de junções mucocutâneas, espaços interdigitais, na face dorsal do pescoço, na região mentoniana, na região lombossacra e na face dorsal da cauda no caso de cães, e na face no caso dos gatos. As regiões que não possuem penugem os os ductos sebáceos se abrem diretamente na superfície da pele.
As glândulas sudoríparas desempenham um papel importante na integridade da pele de cães e gatos, mas não são tão importantes para a regulação da temperatura corporal.
Os cães controlam a temperatura com a boca e o suor passa pelo focinho e pelos coxins, encontrados nas patas. Por outro lado, os gatos são mais resistentes ao calor porque evaporam através de outras glândulas por todo o corpo, além do coxim plantar.
Apesar da não uniformidade de informações na literatura em relação ao valor pH da pele de cães e gatos, por uma possível variação entre raças, este é um fator muito importante visto que seu desbalanceamento do mesmo pode causar dermatites e infecções.
Além do pH da pele, o pH do fluido lacrimal é outro fator que deve ser considerado, pois as formulações com enxágue, se o pH não for adequado, podem causar irritação ocular severa. Esse ponto é importante porque diferente dos seres humanos que tem pH lacrimal igual 7,4 cães saudáveis por exemplo, possuem pH lacrimal 8,06, que é um pH alcalino, o que geraria maior sensibilidade ocular a produtos ácidos caso estes caiam acidentalmente no olho do animal.
Dessa forma, é importante que produtos cosméticos voltados aos pets possuem pH compatível com seu tecido cutâneo e fluido lacrimal, visto que um pH muito afastado destes pode aumentar o risco das afecções citadas.
Dessa forma, é importante que produtos cosméticos voltados aos pets possuem pH compatível com seu tecido cutâneo e fluido lacrimal, visto que um pH muito afastado destes pode aumentar o risco das afecções citadas.
Cosméticos para pets
Há muitos anos atrás quando se pensava em cosmético para pets o que vinha à mente eram produtos para limpeza: xampus e sabonetes. Hoje em dia existem no mercado cosmético inúmeros produtos que se assemelham aos tipos de cosméticos encontrados para uso humano: condicionadores, xampus clareadores, máscaras de tratamento, banhos relaxantes, desembaraçantes, linhas específicas para filhotes, protetores solares, dentre outros.
A forma cosmética mais popular e em maior evidência é o xampu e variantes ligados à limpeza animal, que podem ser com enxágue ou sem, como é o caso dos banhos a seco e condicionadores sem enxágue.
Como foi discutido, pH do produto é um fator muito importante para manter a integridade da pele de gatos e cães, desse modo, produtos como xampus voltados a este público devem ter pH mais neutro, pois precisam estar de acordo com o pH da pele, que pode variar entre 5,86 a 6,45 e o fluido lacrimal que está em cerca de 8,09, então quanto mais próximo da neutralidade mais chances ele terá de não irritar essas duas regiões. Em relação aos condicionadores, eles apresentam pH levemente ácidos para proporcionarem um bom fechamento da cutícula do pelo, não podendo ser abaixo de 5,5, e por essa razão, não devem ser utilizados em regiões próximas dos olhos por serem irritantes.
As formulações de xampu e sabonetes em geral possuem Lauril Sulfato de Sódio ou Lauril Éter sulfato de sódio, no entanto esses tensoativos geralmente são combinados a outros tensoativos mais suaves, de forma que a limpeza não seja agressiva ao tecido cutâneo. Outro fator importante é a fragrância, que ao ser inserida na formulação deve ser mais suave para que não incomode ao animal, visto que sua capacidade olfativa é superior ao do ser humano. Aditivos que promovam reparação e hidratação dos pelos também podem ser encontrados nestes produtos.
Como principais ingredientes ativos cosméticos, destacam-se os extratos vegetais, que podem atuar tanto no marketing quanto como fontes de vitaminas. Esses são os casos do óleo de argan e o aloe vera, ricos em vitamina E que é um bom antioxidante, e fonte de vários outros compostos responsáveis por nutrir o pelo. Há também uma busca por novos ingredientes promissores baseados em extratos e óleos de plantas da biodiversidade brasileira, tendo ênfase em óleos da Amazônia.
Por fim, os produtos de clareamento de pêlos contém substâncias que geram um efeito óptico e geralmente neutralizam o amarelado com tons levemente azulados, tais produtos ganharam força em lojas especializadas de banho e tosa.
Legislação de cosméticos para pets
Esses produtos são regulados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e estão isentos de registro, sendo necessário apenas um cadastro nesse órgão.
Em relação à estabilidade desses produtos, os testes podem ser feitos com base na Instrução Normativa nº 15 de 9 de maio de 2005 do MAPA. Que é um regulamento técnico para a análise da estabilidade de produtos farmacêuticos de uso veterinário.
Não existe legislação do MAPA acerca dos ensaios de segurança e eficácia que devem ser realizados em cosméticos para animais. Portanto, inúmeros são os desafios para a obtenção de produtos cosméticos que possam ser seguros e eficazes para o mercado pet. Ao formular esses produtos deve-se levar em consideração as particularidades da pele dos animais, bem como as formas cosméticas mais adequadas que irão proporcionar mais praticidade e que sejam seguras para uso.
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Bibliografia
WAGEMAKER, T., A., L. Desenvolvimento de formulações cosméticas para animais de estimação: desafios e perspectivas. Journal of Health Sciences Institute. 2019;37(3):272-5.Disponível em: <http://repositorio.unip.br/wp-content/uploads/2020/12/14V37_n3_2019_p272a275.pdf> Acesso em 25 nov. 2021
CNDL, SPC Brasil. MERCADO DE CONSUMO PET, 2017.
SOUZA, T. et al. Aspectos histológicos da pele de cães e gatos como ferramenta para dermatopatologia. Pesq. Vet. Bras. v29 n.2 p.177-190. 2009. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/pvb/a/qNKTKSZB7Gn6g5D7fNbtdQk/?format=pdf&lang=pt> Acesso em 22 nov. 2021.
COSENDEY, V. et al. Desenvolvimento de cosméticos veterinários para higiene e beleza de cães de pelagem clara e análises macroscópica e microscópica dos fios. Brazilian Journal of Development. Curitiba, v.7, n.5, p. 51859-51870. 2021
MAKINO, H. Valores De pH De Xampus De Uso Em Cães. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer – Goiânia, v.10, n.19; p. 2014. Disponível em: <http://www.conhecer.org.br/enciclop/2014b/AGRARIAS/valores%20de%20pH.pdf> Acesso em 25 nov. 2021