Autores: Lethícia C. Pereira, Victor L. S. dos Anjos, Mayara C. S. Silva, Emeli M. de Araújo e Samanta C. Mourão

A pele é o maior órgão do nosso corpo e é composta de múltiplas camadas, sendo elas a epiderme e a derme. Este órgão possui diversas funcionalidades no nosso sistema, porém o seu papel vital é constituir uma barreira de proteção resistente e semipermeável para os tecidos e os outros órgãos auxiliando contra os mais variados fatores, como por exemplo a perda de água e a entrada de agentes infecciosos e químicos.

A pele, apesar de possuir estruturas que ajudem na manutenção do seu equilíbrio natural, sofre danos químicos, físicos e biológicos ao passar dos anos. O dano biológico, por exemplo, provoca o envelhecimento cutâneo, um processo complexo e multifatorial que envolve alterações celulares e moleculares bastante significativas estética e funcionalmente, que se caracteriza pela perda natural de biomoléculas que são importantes para a pele, como água, colágeno, dentre outras. Esse processo tem sido mostrado como resultante do envelhecimento intrínseco (ou cronológico) e do envelhecimento extrínseco, este último sendo associado a fatores ambientais tais como o fotoenvelhecimento.

O ácido hialurônico (AH) é uma das biomoléculas presentes na pele, com maior concentração na derme (cerca de 50% ou 7g) e que vai sendo perdido no processo de envelhecimento cutâneo. Além da pele, também pode ser encontrado em outros locais, como no tecido cartilaginoso, no humor vítreo, no líquido sinovial das articulações e no cordão umbilical, onde é responsável pela homeostasia tecidular (OLIVEIRA, 2009). O AH é uma macromolécula estruturalmente semelhante aos polímeros glicosaminoglicanos (GAGs) e altamente higroscópica. No entanto, o ácido hialurônico é uma molécula não sulfatada que não se liga covalentemente às proteínas e não é encontrado em tecido não animal.

Além das propriedades hidratante e viscoelástica, o AH também possui ação antioxidante (KOGAN et al., 2007) pois funciona como agente sequestrante de radicais livres, o que aumenta a proteção da pele em relação à radiação UV. Por isso, o uso desse composto na indústria de cosméticos é observado há mais de uma década, auxiliando no preenchimento de rugas, sulcos, dentre outros. Como supracitado, as alterações na pele ocasionam uma diminuição de suas funções, causando a perda da capacidade de se adaptar as constantes modificações com o passar do tempo.

Com isso, uma vez pesquisado e conhecido o comportamento biológico do ácido hialurônico, são constantemente desenvolvidos diferentes produtos contendo AH, tais como aqueles denominados antiaging (anti-idade) que estimulam a produção de colágeno e elastina, com o objetivo de evitar o aparecimento de marcas da idade.

Por ser muito versátil, o ácido hialurônico pode ser encontrado em diferentes apresentações de produtos cosméticos como na forma de:

  • Géis;
  • Cremes;
  • Loções;
  • Hidratantes faciais e corporais;
  • Tônicos;
  • Xampus;
  • Condicionadores;
  • Bálsamos pós-barba.
Nos cabelos, o AH também contribui diminuindo o ressecamento e o frizz devido ao seu poder hidratante e preenchedor, que irá agir na fibra capilar evitando que esta quebre, além de dar mais brilho, principalmente em cabelos crespos e cacheados.

O AH também é usado em procedimentos estéticos  para preencher sulcos, rugas e dar volume através da injeção na camada média ou profunda da pele, portanto esse procedimento deve ser realizado por profissionais habilitados e utilizando produtos específicos para uso injetável.

O ácido hialurônico também possui alguns derivados, tais como:

  • Hialuronato de Sódio (HNa)

Por apresentar uma estabilidade estrutural maior que o ácido hialurônico, o seu sal sódio (HNa) é mais comumente empregado nos produtos cosméticos. Essa substância de alto peso molecular, quando empregada em cremes, forma uma película transparente que confere uma proteção natural dificilmente encontrada em umectantes de baixo peso molecular normalmente utilizados.

  • O epidermosil®

Esta substância de baixo peso molecular é um ácido hialurônico fracionado, vetorizado pelo silanol (silício orgânico) e que aumenta a produção do AH natural. Por atuar intensificando a renovação epidérmica e na reestruturação da derme e epiderme, é considerado de ação antiaging, com efeito preenchedor, firmador e de alto poder de hidratação cutânea.

  • Hyaloveil-P®

A Hyaloveil-P® é um novo tipo de ácido hialurônico adesivo que, para manter a hidratação cutânea, forma um filme sobre a pele. A função desse composto se assemelha a um selante, já que este realiza a manutenção da umidade para exercer sua ação.

  • Matrixyl® Synthe 6

Por último, mas não menos importante, o Matrixyl® Synthe 6. O composto possui esse nome pois estimula a síntese de 6 componentes essenciais da junção dermoepidérmica e da matriz cutânea:

  • colágeno I, III, IV;
  • fibronectina;
  • ácido hialurônico;
  • laminina 5.

Atua uniformizando o relevo cutâneo, preenchendo e suavizando as rugas por meio da reconstrução da pele em locais necessários, principalmente na região da testa e no contorno dos olhos.

  • Glicirrizinato de Potássio

Diferente das demais substâncias, o glicirrizinato de potássio é derivado do Alcaçuz e não do ácido hialurônico. Porém, esse composto é responsável por inibir a atividade de “quebra” do ácido hialurônico feita pela enzima hialuronidase e, assim, manter os níveis de AH no corpo, levando a preservação da hidratação, sustentação e elasticidade. O glicirrizinato de potássio tem ação anti-inflamatória, antioxidante, cicatrizante e excelente propriedade antialérgica.

Peso Molecular

A massa molar, ou peso molecular (PM), é outro fator importante para que o ácido hialurônico, na forma de creme ou outras apresentações, consiga exercer seu poder umectante. A absorção cutânea só ocorre com moléculas que possuem um peso molecular inferior a 500 Da, o que não é o caso do AH que é uma macromolécula (105-107 Da). Por isso, existem diferentes pesos moleculares associados aos produtos cosméticos em que essa substância é incorporada, normalmente demonstrado pela porcentagem (%) do composto na formulação daquele produto.

Por meio do PM, é possível analisar a eficiência do ativo em relação a sua interação com a pele, ou seja, pelo ácido hialurônico ter uma propriedade de formar uma película viscoelástica com capacidade de ligar-se à água para retê-la, podemos dizer que quanto maior o peso molecular do AH, mais essa propriedade é favorecida.

Com isso, podemos classificar o PM dessa substância em:

  1. ácido hialurônico com alto peso molecular (maior fração): melhor proteção da película hidrolipídica e aumento da capacidade protetora da barreira epidérmica;
  2. ácido hialurônico de baixo peso molecular (fração mais “nobre”): maior penetração nas camadas superfícies da pele, aumentando a espessura e o controle da oleosidade da pele, e a propriedade hidratante desse composto por reter água diretamente.

Podemos perceber o porquê do ácido hialurônico ser tão cogitado quando falamos em produtos cosméticos, principalmente se tratando de skincare. Por isso, é importante que conheçamos suas funções para que seja usado corretamente para conferir o resultado esperado.

Compartilhe:

Referências:

Agostini, T.; Silva, D. Ácido Hialurônico: princípio ativo de produtos cosméticos. Universidade do Vale do Itajaí [Artigo Científico]. Santa Catarina, 2011. Disponível em: < http://siaibib01.univali.br/pdf/tatiane%20agostini.pdf>. Acesso em: jul. 2022.

ANFARMAG. Fascículo Anfarmag – Dermatologia.

ANFARMAG. Manual de Estabilidade – pH de Ativos de Uso Tópico. 3ª Edição, 2014.

Kogan, G.; Soltés, L.; Stern, R.; Gemeiner, P. Hyaluronic acid: a natural biopolymer with a broad range of biomedical and industrial applications. Biotechnol Lett, v.29, n.1, p.17–25, 2007. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17091377>. Acesso em: jul. 2022.

Moraes, B.R.; Bonami, J.A.; Romualdo, L.; Comune, A.C.; Sanches, R.A. Ácido Hialurônico dentro da área de estética e cosmética. Revista Saúde em Foco – Edição nº 9 – Ano: 2017. Disponível em: <https://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2018/06/062_acidohialuronico.pdf>. Acesso em: jul. 2022.

Oliveira, Â.Z.M. Desenvolvimento de formulações cosméticas com ácido hialurônico. Universidade do Porto [Dissertação de Mestrado em Tecnologia Farmacêutica]. Dezembro, 2009. Disponível em: <https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/44681/2/DISSERTA%C3%83O.pdf>. Acesso em: jul. 2022.

Relação de Ativos Cosméticos.

Skip to content