Autores: Beatriz Gonçalves da Luz e Emeli M. de Araújo
Os tensoativos são agentes de limpeza e são amplamente aplicados em produtos de higiene, como nos sabonetes, xampus, cremes, condicionadores entre outros. Os tensoativos são componentes anfifílicos, possuindo em suas estruturas uma porção apolar e outra polar, o que permite a interação com a água e com óleos e gorduras.
Os tensoativos são classificados de acordo com a carga da porção polar e cada tipo terá características próprias:
- Catiônico: porção polar possui átomos de carga positiva e interagem com moléculas que possuem carga negativa. Se aderem bem em superfícies sólidas e são utilizados nos condicionadores. Exemplos: cloreto de cetil trimetil amônio e cloreto de berrentrimônio;
- Aniônico: porção polar possui átomos de carga negativa, interagem com moléculas que possuem carga positiva. Possuem alta capacidade detergente e são utilizados nos xampus, detergentes e sabões. Exemplos: lauril sulfato de sódio e lauril éter sulfato de sódio;
- Não-iônico: porção polar não possui carga, interagem com moléculas que possuem carga positiva e com moléculas que possuem carga negativa. Possuem detergência baixa e são utilizados como para reduzir a irritabilidade nos olhos e pele, também são usados em cremes, loções e em outros tipos de formulações (exemplo: polissorbato);
- Anfotérico: porção polar possui átomos que podem ter carga positiva ou carga negativa, dependendo do pH do meio que se encontram, pode se comportar como tensoativo catiônico ou tensoativo aniônico. São utilizados em xampus de baixa irritabilidade ocular, como os xampus infantis. Exemplos: cocobetaína e coco amido propil betaína.
Apesar de serem muito úteis para a aplicação em cosméticos, alguns tensoativos sintéticos têm causado impacto negativo sobre a saúde humana e ambiental, por exemplo, o uso de alguns surfactantes está relacionado ao desenvolvimento de dermatite, irritação ocular e processos mutagênicos em seres humanos. Em relação ao meio ambiente, estudos indicam que os tensoativos catiônicos apresentam as mais altas toxicidades aquáticas quando comparados com as outras classes de tensoativos. Ainda, materiais sulfonados, como o lauril sulfato de sódio e o lauril éter sulfato de sódio, a sua obtenção está ligada a processos químicos agressivos ao meio ambiente, como a indústria petroquímica.
Alternativas sustentáveis
Assim, tem-se buscado alternativas sustentáveis para os tensoativos sintéticos, de maneira que possam desempenhar a mesma função desses componentes, mas que não sejam tóxicos ao meio ambiente e não apresentem riscos para os seres humanos. Os biossurfactantes são uma opção de tensoativos ecológicos, pois podem ser produzidos a partir de materiais e moléculas encontradas em plantas, como alcalóides e terpenos, ou a partir de microrganismos, como as leveduras. Além disso, os biossurfactantes apresentam baixa toxicidade, biodegradabilidade, disponibilidade de recursos e podem ser multifuncionais.
Alguns componentes de origem vegetal e animal têm como características serem tensoativos naturais, o que os torna alternativas sustentáveis para a aplicação em cosméticos.
- Lecitina: é um fosfolipídio extraído da soja ou da gema de ovo, possui em sua estrutura porções polar e apolar, sendo um tensoativo natural e biodegradável;
- Cera de abelha + borato de sódio: a combinação entre esse dois componentes formam uma cera emulsificante. O problema é ter que usar um neutralizante sintético;
- Saponinas de plantas: as saponinas são tensoativos naturais produzidos por algumas plantas, como Yucca glauca e Quillaja saponaria. Possuem como vantagem o bom poder surfactante, mas são caros, coloridos e difíceis de formular.
Alguns tensoativos produzidos a partir de álcoois graxos e glicose, como lauril glicosídeo, decil glicosídeo e capril glicosídeo são considerados os tensoativos mais naturais produzidos disponíveis, pois são facilmente biodegradáveis e possuem como fonte primária componentes vegetais, como o óleo de coco, o óleo de palma, milho e batatas. Entretanto, a pesquisa e aplicação de tensoativos naturais é imprescindível para que a indústria de cosméticos possa desenvolver produtos cada vez mais compatíveis com o meio ambiente e com a saúde humana e animal.
Xampu e condicionador em barra
Além de possuírem os tensoativos supracitados, os xampus e condicionadores apresentam vários aspectos negativos para o meio ambiente. As embalagens de plástico poluem o ambiente e demoram anos para se decompor, além disso, o modo de uso desses cosméticos leva os rejeitos direto para o ambiente aquático. Como visto na matéria sobre Cosméticos Sustentáveis, o ideal é que esses produtos sejam desenvolvidos causando o mínimo impacto ambiental negativo possível, o que inclui o uso de embalagens ecológicas e matérias-primas renováveis.
Os xampus e condicionadores em barra são uma versão sustentável desses cosméticos, pois além de não possuírem tensoativos aniônicos de origem petroquímica, como o lauril sulfato de sódio e o lauril éter sulfato de sódio, as embalagens são biodegradáveis e de papel reciclado, assim como não possuem água da sua composição, o que atende a premissa do Desenvolvimento Sustentável de não esgotar os recursos naturais, como a água.
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Referências:
- Alquimia Oriental. Diferenças entre ceras orientais. Disponível em: <https://alquimiaoriental.com.br/diferencas-entre-ceras-naturais/>. Acesso em: 12 ago. 2023;
- Datil, D. Tensoativos: química, propriedades e aplicações. São Paulo: Blucher, 2011;
- Fernandes, N. A. T.; Simões, L. A.; Dias, D. R. Comparison of Biodegradability, and Toxicity Effect of Biosurfactants with Synthetic Surfactants. Advancements in Biosurfactants Research. 2023, p. 117-136;
- Maverik Oils. Why Lecithin Is the Best Emulsifier. Disponível em: <https://maverikoils.com/why-lecithin-is-the-best-emulsifier/#:~:text=Lecithin%20as%20an%20Emulsifier&text=The%20only%20place%20the%20lecithin,and%20others%20to%20combine%20naturally>. Acesso em: 12 ago. 23;
- Sankhla, M.S.; Parihar, K.; Kumar, R.; Bhagat, D.; Sonone, S.S.; Singh, G.K.; Nagar, V.; Awasthi, G.; Yadav, C.S. Ecofriendly Approach for Steroids, Terpenes, and Alkaloids-based Biosurfactant. Biointerface Research in Applied Chemistry. 2023, v. 13 (2).