Autores: Lethícia C. Pereira e Emeli M. de Araújo.

A gestação é um período em que o corpo da mulher sofre diversas mudanças, incluindo na pele, que é impactada por alterações endócrinas, imunológicas, vasculares e metabólicas, podendo provocar modificações tanto fisiológicas quanto patológicas.

Essas alterações específicas na pele são extremamente comuns durante a gravidez e são classificadas em três grupos principais:

  1. alterações cutâneas fisiológicas: estrias, hiperpigmentação, acne, alterações vasculares e aumento de pelos;
  2. dermatoses específicas da gravidez: erupções desencadeadas na gestação e que ocorrem apenas nesse período, sendo a erupção polimórfica da gravidez a mais relatada e caracterizada pelo aparecimento de lesões avermelhadas e elevadas, coceiras e prurido principalmente na região do abdômen (particularmente na zona de estrias);
  3. dermatoses alteradas da gravidez: o quadro mais comum é o de dermatite atópica que, devido as variações hormonais, tem seus sintomas ondulando entre melhora e piora durante a gestação.

Geralmente quando se aplica um produto na pele, objetivamos um efeito local, no entanto muitas substâncias podem ser absorvidas pela pele e alcançar a circulação sistêmica causando problemas tanto para mãe quanto para o feto. Por isso, durante a gravidez é importante saber quais produtos de uso tópico podem ser utilizados para o tratamento das diferentes alterações na pele que acometem as gestantes.

Melasma

Alterações pigmentares são bastante comuns durante a gravidez, acometendo cerca de 90% das gestantes, e podem permanecer no puerpério, sobretudo por falta de cuidados direcionados na gravidez. A face, por ser uma área de maior exposição ao sol, é uma das principais regiões afetadas pela hiperpigmentação durante a gestação e, geralmente, é a localização que mais afeta a autoestima da mulher. O cloasma gravídico, mais conhecido como melasma, é o principal representante da hiperpigmentação localizada, acometendo cerca de 70% das grávidas, e na face pode ocorrer em três diferentes padrões:

  1. Centrofacial (mais comum);
  2. Malar;
  3. Mandibular.
Figura 1: Tipos de melasma facial ((a) centrofacial; (b) malar; (c) mandibular).
Fonte: Adaptado de SABOIA, 2019.

Os despigmentantes tópicos são substâncias que atuam diretamente na região hiperpigmentada e podem ser utilizados na face. Eles agem por 3 formas:

  1. Pelo clareamento da melanina;
  2. Pelo bloqueio da função melanocítica;
  3. Pela destruição do melanócitos.

Tratamento das alterações pigmentares durante a gravidez

Como as alterações pigmentares são as mais comuns durante a gravidez, deve-se redobrar os cuidados com os produtos de uso tópico, pois apesar de serem utilizados para o clareamento da pele, as gestantes normalmente não podem usar, uma vez que podem conter substâncias como:

  • hidroquinona: classificada como risco C (pode causar má formação fetal), é uma substância citotóxica com diversos efeitos adversos que pode ser usada, mas não é recomendada durante a gravidez;
  • alfa-hidroxiácidos (AHA): fazem parte do grupo de AHAs o ácido glicólico, ácido cítrico, ácido mandélico, ácido málico, ácido tartárico e o ácido lático. Classificadas como risco B, são substâncias amplamente utilizadas em produtos anti-aging (anti-idade) e para esfoliação química, promovendo a renovação da pele. Não são despigmentantes em si, porém a esfoliação promovida por esses ativos acende um alerta pois pode potencializar o aparecimento do melasma, uma vez que a pele fica mais exposta à radiação solar por estar mais “fina”. Também não são recomendados para gestantes pois podem causar hipersensibilidade na pele. O ideal é descontinuar o uso ou baixar as concentrações de determinados ativos, de acordo com o indicado pelo profissional habilitado.

Nestes casos, as gestantes podem optar por usar o ácido ascórbico a 5% ou alfa arbutin, um derivado da hidroquinona que não apresenta toxicidade ao feto e possui pouca reação de hipersensibilidade. Outros ativos que podem ser utilizados como tratamento das alterações pigmentares durante a gestação são o ácido kójico, que apesar de não ter muitos estudos, possui baixa intolerância e citotoxicidade; e o ácido azeláico, classificado como risco B (estudos em animais não indicam risco, mas não foram realizados testes em humanos para verificar o risco para o feto).

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Referências:

  1. Produtos de uso tópico na gravidez, Sistema de Informações sobre Agentes Teratogênicos. Bahia (UFBA), 20 maio de 2021. Disponível em: <https://siat.ufba.br/produtos-de-uso-topico-na-gravidez>. Acesso em: 12 jul. 2024.
  2. ALVES, G. F.; NOGUEIRA, L. S. C.; VARELLA, T. C. N. Dermatologia e gestação. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 80, n. 2, p. 179–186, mar. 2005. Disponível em: < https://doi.org/10.1590/S0365-05962005000200009>. Acesso em: 12 jul. 2024.
  3. COUTINHO, G. S. L.; FILHO, I. V.; BARROS, L. C.; MARINHO, H. T., et al. Prescrição de produtos dermocosméticos durante a gravidez. Revista Ciência & Saúde, v. 5, n. 1, p. 16-25. Porto Alegre, jan/jun. 2012.Disponível em: <https://doi.org/10.15448/1983-652X.2012.1.9661>. Acesso em: 12 jul. 2024.
  4. SABOIA, S.M. Criação de um fôlder sobre melasma para gestantes atendidas em uma policlínica de Niterói-RJ. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Graduação em Curso Farmácia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Niterói, 2019. Acesso em: 03 ago. 2024.
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