O bronzeamento natural realizado por meio da exposição ao sol é um hábito frequente no Brasil e se caracteriza pela pigmentação da pele gerada pela produção de melanina. No entanto, a exposição crônica ou excessiva ao sol pode acarretar em danos na pele, tais como queimaduras, manchas de pele, fotoenvelhecimento e até mesmo aumentar o risco do desenvolvimento de câncer de pele. Cabe ressaltar que nem todas as pessoas têm a mesma capacidade de bronzeamento e de desenvolver queimaduras solares (eritema).
Uma alternativa ao bronzeamento natural é o bronzeamento simulatório (ou artificial) por meio do uso de cosméticos que possibilitem a pigmentação da pele sem produção de melanina que seria produzida através da exposição à radiação solar. As substâncias ativas mais usadas nesses cosméticos são a dihidroxiacetona (DHA) e/ou a Eritrulose.
Dihidroxiacetona (DHA)
A DHA é um açúcar derivado de fontes vegetais que não induz a melanogênese, ou seja, não sintetiza melanina. Ao invés disso, seu grupamento carbonila liga-se covalentemente aos aminoácidos da queratina presentes nas células mortas da camada superficial da pele, seguido de uma reação de polimerização. Esse processo é conhecido como reação de Maillard, ocorrendo a produção de compostos marrom-dourados chamados de melanoidina, que são responsáveis pelo tom bronzeado similar ao obtido em um bronzeamento natural, sendo o efeito final atingido no dia seguinte à aplicação, pois a pele pode continuar escurecendo por 24 a 72 horas e, considerando que a espessura e compactação do estrato córneo estão correlacionadas.
A cor alcançada neste procedimento depende da concentração de queratina na pele. Desta forma, para aumentar a durabilidade do efeito, que é em média cerca de 7-10 dias, é importante realizar uma prévia esfoliação da pele com o objetivo de reduzir a camada córnea da epiderme obtendo-se como resultado uma maior aderência do produto na superfície da pele. Por esse motivo, é recomendado que se evite o uso de esfoliantes e práticas que levem ao suor excessivo, além de ser imprescindível a utilização de hidratantes corporais.
Este ativo é o mais utilizado na indústria de cosméticos para a finalidade de bronzeamento simulatório por ser considerado uma molécula atóxica, não cancerígena, segura e aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration) para aplicação na pele.
Além disso, de acordo com a RDC nº 7, de fevereiro de 2015 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os Bronzeadores Simulatórios são classificados como Grau 2 e isentos de registro, sendo obrigatória constar a advertência no rótulo: “Atenção: não protege contra a ação solar”.
Isso porque a utilização de produtos que contém essa substância nunca deve dispensar o uso do protetor solar, uma vez que a produção do pigmento melanoidina não protege a pele quando exposta aos raios solares. O efeito bronzeado é apenas estético e não protetivo para a pele. Somente o protetor solar é capaz de formar uma barreira efetiva contra os raios UVA e UVB. Portanto, seu uso e reaplicação ao longo do dia continua sendo indispensável.
- A DHA pode estar contida em produtos cosméticos em diferentes formas de apresentação, como:
- loção;
- spray;
- gel;
- mousse.
Em qualquer forma de apresentação é recomendado cuidado para não inalar essa substância e não aplicar o produto nas membranas mucosas, como olhos e nariz, porque os riscos ainda são desconhecidos.
1. Formulações de cosméticos contendo DHA
Os cosméticos que contém DHA são também chamados de autobronzeadores. O efeito de bronzeado sem expor a pele ao sol é o objetivo dos mesmos. A DHA nestas formulações está geralmente presente em uma concentração de 5%. Por serem produtos que podem ser aplicados em casa, sem necessidade de ir a uma clínica estética, há possibilidade de não haver uniformidade da cor ou a ocorrência de manchas alaranjadas ou marrons nas palmas das mãos se não houver uso de proteção, como luvas. Isso porque a reação de Maillard, que dá a coloração a pele, também irá ocorrer no local que teve contato com o produto no momento da aplicação.
Por isso, para evitar a ocorrência de problemas decorrentes da autoaplicação, é importante que o produto seja aplicado da maneira mais homogênea possível e com uso de luvas para não manchar as mãos.
- Adicionalmente, os autobronzeadores não são recomendados para crianças e contraindicados para pessoas que apresentem alergia aos seus componentes. Já para gestantes que desejam usar este produto, é recomendado formulações que não sejam spray, para evitar inalação.
A vantagem dos produtos autobronzeadores é que podem ser apresentados em várias texturas, cada uma sendo indicada para um tipo de pele e de acordo com a facilidade de aplicação. Isto é, para quem tem a pele mais ressecada, deve-se optar por loções que contenham agentes umectantes, como a glicerina, que auxiliam na fixação desse produto nesses tipos de pele. Já as peles oleosas, principalmente a pele do rosto, lidam bem com produtos em géis, assim como as peles mistas. Formulações em spray, por sua vez, são indicadas apenas para o corpo (devem ser evitadas na face).
Por outro lado, os autobronzeadores em mousse têm a facilidade de ter cor guia, ou seja, é possível visualizar o produto quando aplicado na pele por causa da presença de corantes que proporcionam instantaneamente a coloração bronzeada. Posteriormente, essa cor sai quando lavada, deixando apenas o efeito real do produto evitando, assim, as manchas na pele e tornando a aplicação mais homogênea, sendo ideal para iniciantes.
Existem também versões de autobronzeadores com DHA a 2%, que é mais baixa do que a convencional, e permite a aplicação diariamente como um hidratante, o que promove alcançar a cor desejada gradativamente. Em suas formulações podem estar presentes hidratantes como o ácido hialurônico, potencializando a hidratação da pele, e a vitamina C, poderoso antioxidante capaz de combater os radicais livres. O resultado é um bronzeado uniforme, natural e de longa duração. É muito importante que a pele seja hidratada previamente à aplicação do produto, pois a hidratação das regiões mais secas como: pés, mãos, joelhos, calcanhares e cotovelos garantirá que essas áreas não acumulem mais produto que as demais, tornando o bronzeado mais uniforme e bonito.
É importante destacar que como há constante renovação das células da pele, a pigmentação gerada vai desaparecendo ao longo do tempo, sendo necessária a reaplicação, portanto é um efeito temporário.
2. Bronzeamento artificial a jato
A substância ativa do bronzeamento artificial a jato também é o DHA.
Este procedimento é realizado por um profissional especializado e consiste em aplicar o produto sobre a pele com o auxílio de uma pistola conectada a um compressor. O equipamento cria uma fina névoa de DHA, conferindo à pele, logo após o jateamento aerógrafo ou spray, uma coloração semelhante àquela alcançada no bronzeamento natural.
É um processo rápido, seguro e, por ser realizado sem contato manual, o resultado tende a ser uniforme e pouco propenso a manchas. No entanto, apesar de ser um procedimento seguro, não é recomendado para crianças, pessoas com pele sensível e alérgicos ou pessoas com doença de pele, como dermatite e demais doenças cutâneas. Não se deve inalar o produto.
Eritrulose
Essa substância também é um açúcar que sofre reação de Maillard em contato com a pele gerando composto colorido. A eritrulose pode ser encontrada em:
- loções hidratantes como única substância ativa;
- associada a dihidroxiacetona (DHA) nos produtos cosméticos destinados ao bronzeamento a jato.
A vantagem da eritrulose é a reduzida probabilidade de ocorrerem manchas inconvenientes e o ressecamento da pele, proporcionando um bronzeado gradual mais duradouro e homogêneo quando combinada a dihidroxiacetona. A diferença desses açúcares é que a eritrulose reage mais lentamente com os aminoácidos livres presentes na camada superficial da pele. Por isso, quando combinadas, essas substâncias produzem um efeito mais natural e intenso.
Tonalizantes
Os tonalizantes não são bronzeadores simulatórios, são produtos com finalidade de maquiagem que proporcionam cor imediata e que podem ser facilmente retirados com água e sabonete, pois não ocorre nenhuma reação química na pele.
As versões de tonalizante em spray funcionam como uma base (normalmente usados para as pernas) e esconde algumas imperfeições, como pequenos vasos e manchas. Ao contrário de produtos iluminadores, o acabamento é opaco. Já o produto em acabamento gel não garante cobertura, mas escurece um tom, no máximo dois, da tonalidade da pele. Alguns contêm partículas douradas, o que, com a ajuda do reflexo da luz, pode camuflar as estrias e celulite. Na indústria da beleza, esse item é muito usado em sessões de fotos e em desfiles para melhorar a aparência da pele nas imagens.
Exemplo de formulação de autobronzeador
Ingredientes | Função |
Água | Solvente |
Glicerina | Solvente, Hidratante |
Álcool cetearílico | Surfactante, Controle de Viscosidade, Emulsificante |
Paraffinum Liquidum | Solvente, Antiestático |
Dihidroxiacetona | Substância bronzeadora |
Dimeticona | Emoliente |
Alcohol Denat | Solvente |
Propilenoglicol | Solvente, Umectante |
Manteiga de Butyrospermum Parkii (karité) | Hidratante, Emoliente |
Cetearil Glucosídeo | Controle de Viscosidade. Hidratante, Emulsificante |
Caprililglicol | Hidratante, Emoliente |
EDTA dissódico | Quelante |
Isohexadecano | Solvente, Emoliente |
Fenoxietanol | Conservante |
Polissorbato 80 | Surfactante, Emulsificante |
Extrato de casca de Salix Alba | Condicionador da pele, Antiinflamatório, Adstringente |
Sorbitan Oleate | Emulsionante |
Tocoferol | Antioxidante |
Goma xantana | Controle de Viscosidade |
Perfume | Fragrância |
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Autoras: Lethícia C. Pereira, Gabriela W. Schiessl e Emeli M. de Araújo
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