Mudar a cor do cabelo é um processo muito utilizado por milhões de pessoas que remonta, no mínimo, há 4000 anos. Na contemporaneidade não é diferente, cerca de 26% da população brasileira maior de 18 anos faz uso da tintura para o cabelo, segundo estudo feito pelo Target Group Index (TGI) e sendo 85% mulheres e 15% homens.

Para atender este mercado que está constantemente em crescimento, há uma enorme quantidade de inovações na indústria de cosméticos visando acompanhar os avanços no entendimento da estrutura química e molecular dos cabelos, além do progresso na compreensão dos mecanismos de ação do tingimento, para produção de produtos mais eficientes, seguros e com maior durabilidade da cor.

A estrutura do cabelo é composta por camadas sendo as principais:

  • cutícula;
  • medula;
  • córtex.

Córtex

No córtex estão localizadas quantidades variáveis de pigmentos que irão conferir a cor natural do cabelo. A medula, tem um eixo tipicamente oco, apresenta queratina na forma esponjosa e não tem um papel relevante no processo de tingimento dos cabelos. A cutícula é a camada de proteção mais externa dos cabelos contra danos extrínsecos, pois reveste o fio, constituindo-se, principalmente, de queratina.

Medula

A medula, tem um eixo tipicamente oco, apresenta queratina na forma esponjosa e não tem um papel relevante no processo de tingimento dos cabelos.

Cutícula

A cutícula é a camada de proteção mais externa dos cabelos contra danos extrínsecos, pois reveste o fio, constituindo-se, principalmente, de queratina.

Pigmentação

O cabelo é composto por até 95% de queratina, principal proteína existente nos fios, e sua cor é determinada pela presença de melanina. Esses pigmentos naturais são formados por melanócitos (células produtoras de pigmentos), que produzem essencialmente dois tipos de melanina: eumelanina e feomelanina.

Eumelanina

Este pigmento é responsável pela coloração nos cabelos castanhos/pretos.
Por isso, cabelos ricos em eumelanina tendem a ter tons mais escuros. Sua estrutura química é de um polímero constituído, principalmente, de DHI (5,6-di-hidroxiidol) e, em menor quantidade o DHICA (5,6-di-hidroxiidol-2-ácido carboxílico);

Feomelanina

Este pigmento é responsável pela coloração nos cabelos louros e ruivos.
Por isso, cabelos ricos em feomelanina tendem a ter tons mais claros. Variados pigmentos com estruturas e composições distintas fazem parte da estrutura química das feomelaninas, mas pouco se sabe sobre.
Em geral, possuem uma complexa mistura de polímeros em unidade de 1,4-benzo-tiazinil-alina com altos percentuais de enxofre, indo de 10% a 12%.

Existem ainda as oximelaninas que também responsáveis pelos pigmentos loiros e avermelhados. No entanto, não contém enxofre, já tendo sido referenciada com uma coloração semelhante às da feomelanina, geradas de uma clivagem peroxidante parcial de unidades 5,6-dihidroxi-indol (eumelaninas branqueadas).

Classificação dos corantes de cabelo

De modo geral, os corantes de cabelo são classificados em:

  1. Sintético temporário;
  2. Sintético semipermanente;
  3. Sintético oxidativo ou permanente.

Corante sintético temporário

Essas tinturas geralmente apresentam moléculas relativamente grandes em sua composição, impedindo sua penetração no córtex, camada mais superficial do fio. Esses tipos de corantes usualmente são aplicados por processo de deposição devido à sua interação com grupos catiônicos presentes nos fios e, por isso, saem facilmente na primeira lavagem devido a sua baixa afinidade como os componentes do cabelo, podendo até mesmo manchar a pele e roupas de cama. Essas formulações podem estar presentes nas formas de sprays, mousses, loções, géis e condicionadores.

Em processos de descoloração de mechas, este corante também pode ser utilizado em cremes condicionadores para neutralizar reflexos indesejados, fixando-se entre a cutícula e o córtex, graças à porosidade encontrada no cabelo nessas condições.

Corante sintético semipermanente

Esses tipos de tinturas são responsáveis por 10% do mercado e os corantes utilizados são moléculas relativamente de tamanho reduzido que possuem uma boa afinidade com a fibra capilar.

Essa denominação deve-se ao fato de que os produtos conseguem abrir a cutícula e os corantes penetraram parcialmente no córtex, sem o envolvimento de reação química. No entanto, é muito provável que haja o retorno dessas moléculas, que são removidas gradualmente, tendo um efeito de 6 a 12 lavagens.

Neste tipo de tintura não há presença de peróxido de hidrogênio e, por isso, não é possível clarear os fios São utilizadas misturas de 10 a 12 corantes diferentes para chegar na cor desejada. Essas formulações podem estar na forma de sprays, loções, xampus, etc.

Corante sintético permanente e/ou oxidativo

Sendo responsáveis por 80% do mercado mundial, esses tipos de tinturas possuem versatilidade, fazendo com que sejam as mais utilizadas mundialmente. Essas tinturas envolvem a reação entre dois componentes misturados antes do uso, um meio oxidativo e pH alcalino, onde o corante em si é formado no próprio cabelo por meio de reações químicas.

Esses produtos apresentam substâncias intermediárias que, depois de oxidadas pelo peróxido de hidrogênio, funcionam como corantes que se ligam à acopladores e produzem a coloração desejada. O pH alcalino, promovido pela presença de amônia (pH 8 a 10), faz com que haja a abertura da cutícula de forma a otimizar a absorção dos corantes e do peróxido de hidrogênio pelo córtex.

A definição da tonalidade, se mais escura ou mais clara, será de acordo com as quantidades de oxidante, acopladores e precursores. Estão presentes em formulações em géis, cremes, líquidas ou sólidas.

Legislação

De acordo com a RDC n° 07, de 10 de fevereiro de 2015, que dispõe sobre os requisitos técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes e dá outras providências, os produtos para coloração capilar são classificados como Grau 2 sujeitos a registro.

Riscos

  • Ingredientes comuns e os seus riscos

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é responsável pela autorização de comercialização de produtos cosméticos por meio de notificações e registros, além de fiscalizar as empresas fabricantes, verificando o processo de produção, as técnicas e os métodos empregados até o consumo final. De acordo com a agência regulatória, antes de um produto ser lançado no mercado, a sua segurança deve ser avaliada pelo próprio fabricante ou importador por meio de diversos ensaios toxicológicos.

Os riscos do uso dessas tinturas para cabelos estão normalmente concentrados na sua composição. Os compostos químicos presentes nas tinturas capilares como corantes, precursores, acopladores, aditivos entre outros são considerados os ingredientes mais reativos da indústria cosmética, o que torna o processo de tintura de cabelos bastante complexo. Algumas tintas de cabelo são utilizadas para colorir os cabelos brancos e elas são compostas por alguns corantes metálicos, como o chumbo, bismuto ou prata. Esses elementos, como o chumbo, são considerados metais pesados e na tinta é encontrado como acetato de chumbo. Quando entra em contato com o nosso organismo, o chumbo pode gerar problemas neurológicos, gastrointestinais, musculares, hormonais, até mesmo surgimento de câncer, entre outros.

Além do chumbo, outro ingrediente muito comum nas tintas de cabelo é o formaldeído, sendo permitido no Brasil somente como conservante e não como alisante. Essa substância pode provocar queda capilar, dermatite, ulcerações e até mesmo alguns tipos de câncer. O alcatrão é uma substância considerada como carcinogênica pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer e pode ser encontrado em tinturas do tipo semipermanentes. Os efeitos do alcatrão incluem o surgimento de alguns tipos de câncer (de pele, pulmão, bexiga, nas células do sangue).

Os liberadores de dioxano também compõem grande parte das tinturas sintéticas. São considerados possivelmente carcinogênicos pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) e podem causar irritação no couro cabeludo, desencadear alguns tipos de alergias, irritação na garganta e nariz por meio da inalação de produtos como as tinturas. As reações alérgicas provocadas por essas substâncias não se limitam a sintomas leves como irritação no nariz e coriza, elas podem provocar inchaço extremo no rosto a ponto de ser necessário um atendimento médico podendo ocorrer asfixia. Esses danos à saúde ocorrem quando as substâncias entram em contato com o nosso organismo tanto externamente quanto internamente. Já existem diversos estudos que indicam uma absorção de componentes das tinturas através do couro cabeludo, indicando que os produtos entrariam em contato com o couro cabeludo e seriam facilmente absorvidos causando efeitos negativos na saúde do usuário da tintura.

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Autoras: Lethícia C. Pereira, Thais G. Flor, Gabriela W. Schiessl e Samanta C. Mourão

Referências:

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CORRÊA, G.T. Determinação eletroanalítica de corantes de cabelos temporários em água, tintura comercial e fio de cabelo usando eletrodo compósito e partículas magnéticas modificadas com carboxilatos. Tese (Doutorado em Química) – Instituto de Química, Universidade Federal Paulista. Araraquara, p 33-35. 2017. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/151577/correa_gt_dr_araiq.pdf?sequence=3&isAllowed=y>. Acesso em 11 de maio de 2021.

CAMPOS, V.N.S.C. et al. Avaliação de segurança de produtos cosméticos: rotulagem e teores de amônia em tinturas capilares comercializadas em São Luiz – MA. CBQ – Congresso Brasileiro de Química, 56° Edição. ISBN 978-85-85905-19-4. Disponível em: <http://www.abq.org.br/cbq/2016/trabalhos/4/10206-17211.html#:~:text=A%20Resolu%C3%A7%C3%A3o%2079%20de%2028,indica%C3%A7%C3%A3o%3A%20%E2%80%9Ccont%C3%A9m%20am%C3%B4nia%E2%80%9D.&text=Cabe%20ressaltar%20que%20as%20tinturas,apresentar%20am%C3%B4nia%20em%20sua%20composi%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em 11 de maio de 2021. BRASIL. Resolução RDC n° 07, de 10 de fevereiro de 2015. Dispõe sobre os “Requisitos técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes e dá outras providências” constantes do anexo desta Resolução. Órgão emissor: ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2015/rdc0007_10_02_2015.pdf>. Acesso em 11 de maio de 2021.

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