Os produtos cosméticos apresentam em sua composição substâncias ativas e excipientes. Alguns excipientes são responsáveis por garantir a estabilidade da formulação, como os conservantes, que quando adicionados são capazes de aumentar a vida útil do produto final, mantendo o nível de fungos e bactérias dentro dos limites estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) de acordo com a resolução Nº 481 de 23 de setembro de 1999.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, os produtos cosméticos não são isentos de microrganismos, logo os conservantes são excipientes importantes na formulação.

De uma forma geral, os conservantes possuem diferentes mecanismos de ação antimicrobiana, de acordo com a sua estrutura química. Podem atuar em diversos alvos celulares, porém também podem apresentar efeitos tóxicos ao consumidor, sendo relatados como as substâncias mais sensibilizantes causadoras de alergia e dermatite de contato presente em formulações cosméticas.

Dentre os conservantes, os parabenos são os mais conhecidos e utilizados, e inclui:

  • metilparabeno;
  • etilparabeno;
  • propilparabeno;
  • butilparabeno;
  • isopropilparabeno;
  • isobutilparabeno;
  • benzilparabeno.

Os motivos que justificam a sua extensa utilização em cosméticos se resumem no seu amplo espectro antimicrobiano, baixo custo e compatibilidades com muitas matérias-primas.

Além disso, sua utilização requer níveis baixos de uso, geralmente são entre 0,01 a 0,3%. Os parabenos foram classificados pelo FDA (Food and Drug Administration) e pelo EMA (European Medicines Agency) como seguros. Porém, um debate se estabeleceu nas últimas décadas a partir de evidências da relação entre o uso de produtos com parabenos e reações alérgicas.

Os parabenos são absorvidos pela pele e distribuídos pelo organismo humano. Pesquisas já relataram a presença de parabenos em células de tecidos afetados pelo câncer de mama, impulsionando a multiplicação das células cancerígenas. Com base nessas pesquisas, especialistas começaram a contraindicar o uso de produtos com parabenos na região da mama e das axilas, e a venda de cosméticos “livres de parabenos” foi impulsionada.

Adicionalmente, existem indícios de os parabenos causarem alterações hormonais. A presença de parabenos em produtos infantis gera maior preocupação, pois as crianças apresentam uma pele mais fina, logo a função de barreira de proteção é reduzida, facilitando a penetração de substâncias químicas presentes em produtos cosméticos.

Outro conservante também utilizado e que foi relacionado a efeitos semelhantes com alteração hormonal é o Triclosan. Em alguns estudos foram detectados a presença desta substância em níveis significativos na urina, plasma e leite materno nas populações, indicando o efeito acumulativo do triclosan e sua alta absorção pelo corpo humano. A exposição ao triclosan pode gerar efeitos negativos como:

  • diminuição da função tiroideia;
  • carcinogénese do fígado;
  • distúrbios endócrinos;
  • distúrbios no desenvolvimento.

Apesar dos estudos citados acerca dos parabenos e do triclosan indicarem efeitos tóxicos para o corpo humano, eles são substâncias autorizadas pela ANVISA. O ácido salicílico e seus sais, quando utilizados como conservantes, são proibidos em produtos para crianças com menos de 3 anos de idade, com exceção dos shampoos. Já o 6-Clorotimol é um conservante proibido em produtos infantis, independentemente da idade, e o Glutaraldeído não pode ser utilizado em aerossóis e sprays, por exemplo.

As isotiazolinonas, outro produto com ação conservante, inclui dois potentes alérgenos e sensibilizadores de contato, a Metilisotiazolinona (MI) e Metilcloroisotiazolinona (MCI). Devido a isso, a concentração do uso em conjunto da MI e MCI deve ser de 0,0015% e a de MI 0,01% nas formulações cosméticas, de acordo com a Resolução RDC nº 29, de 1º de junho de 2012.

O formaldeído, um conservante com uso permitido nas limitações entre 0,1 a 0,2% e como agente endurecedor de unhas com limite máximo de uso permitido 5%, segundo Resolução RDC nº 29, de 1º de junho de 2012, também já gerou muitas polêmicas. Produtos cosméticos com função diferente das citadas ou em limites acima dos permitidos, podem causar danos à saúde, como irritação da pele, vermelhidão, queimaduras, lacrimação, visão embaçada, hipersensibilidade e até mesmo queda de cabelo, além de ser cancerígeno.

Por fim, é importante destacar que são necessárias mais pesquisas para assegurar ainda mais o uso dos conservantes em produtos cosméticos e apesar dos estudos publicados, muitos foram realizados em animais e em concentrações maiores que as encontradas em produtos para uso humano, indicando a necessidade de mais pesquisas serem feitas.

Porém, enquanto isso, os mesmos continuam permitidos pela ANVISA em produtos cosméticos e é importante lembrar que são substâncias essenciais para garantir a estabilidade microbiológica do produto. De qualquer forma, todas estas suspeitas juntamente com capacidade de bioacumulação dos conservantes demonstram que as implicações das suas exposições para a saúde humana devem ser cuidadosamente analisadas.

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Autores: Luiza S. de Medeiro, Iago M. Gonçalves, Victor Anjos, Emeli M. de Araújo e Samanta C. Mourão.

Referências:

  • ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da diretoria colegiada- RDC nº 29, de 1º de junho de 2012. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2012/rdc0029_01_06_2012.html>.
  • HOPPE, A.C.; PAIS, M.C.N. Avaliação da toxicidade de parabenos em cosméticos. Revinter, v. 10, n. 03, p. 49-70, out. 2017. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.22280/revintervol10ed3.301>.
  • HALLA, N. et al. Cosmetics Preservation: A Review on Present Strategies. Molecules 2018, 23, 1571; Disponível em: <10.3390/molecules23071571>.
  • MONTEIRO, B.E.S (2017). Toxicidade dos produtos cosméticos. (Mestrado) Universidade Fernando Pessoa, Porto. Disponível em: <https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/6563/1/PPG_27598.pdf>.
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