A preocupação com o meio ambiente devido ao uso e descarte exacerbados de produtos sintéticos, como plásticos e derivados químicos, é antiga, e com a expansão de uma maior consciência ambiental por parte dos consumidores, surgiu a concepção dos chamados cosméticos “verdes”,  cuja intenção é promover um consumo responsável. São eles: cosméticos veganos, cruelty-free e ocean friendly.

Cruelty free

Os cosméticos cruelty-free são aqueles nos quais não há a realização de testes em animais, contudo pode haver substâncias de origem animal como cera de abelha, mel ou leite. Ao redor do mundo, países como Índia, Taiwan, Nova Zelândia, Noruega, Coréia do Sul, Suíça e Guatemala proíbem os testes em animais. A União Europeia proíbe a venda de produtos testados em animais desde 2013.

O movimento cruelty-free no Brasil está em crescimento. Existem leis estaduais que proíbem testes em animais para produtos cosméticos, de higiene pessoal no Rio de Janeiro (7.814/2017) e de São Paulo (15.316/2014), e outros 6 estados brasileiros. Nesse contexto, as indústrias de cosméticos estão voltando seu olhar para esse mercado que cada vez mais se expande. A ANVISA em 2016 entrou em acordo com as diretrizes já utilizadas pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) que reconhece 17 métodos alternativos para a não utilização de animais em testes de segurança e eficácia de produtos cosméticos. Com isso, as empresas se sentem induzidas a abandonarem a experimentação animal em teste de avaliar irritação da pele, irritação ocular, toxicidade aguda e absorção cutânea, entre outros.

Em 2021, a Humane Society International (divisão internacional da The Humane Society – EUA) realizou uma campanha publicitária, conhecida como “Salve o Ralph”, a qual divulgava os testes feitos em animais de laboratório, denunciando o sofrimento que os animais são submetidos e como são descartados. Tal campanha gerou grande comoção por parte do público e uma nova luz sobre o assunto.

Fonte: Geek Publicitário

Filosofia vegana

A filosofia vegana prega uma relação harmoniosa entre todos os seres e o meio ambiente. Por definição, os cosméticos veganos são aqueles que não fazem testes em animais (cruelty-free) e nem possuem ingredientes provindos de animais, como albumina, lactose, mel e outros derivados, sendo esses produtos substituídos por produtos sintéticos e/ou de origem vegetal/mineral.

No Brasil, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), criada em 2003, é a instituição que dá o selo de aprovação para dizer se o produto passa por todos os requisitos para ser considerado vegano ou não. Dessa forma o consumidor é assegurado que o produto ou subproduto não possua derivados/origem animal ou seja testado em animais.

Ademais, o aumento da preocupação com o meio ambiente e uso dos recursos naturais, leva aos consumidores de cosméticos ficaram mais exigentes na fabricação de seus produtos e notarem com mais atenção na composição dos mesmos. A indústria cosmetológica necessitou se adequar para continuar apresentando produtos requeridos pelos consumidores.

Por ser uma terminologia mais recente, no Brasil o termo orgânico ainda é confundido com natural e vice-versa. Para a padronização de conceitos de produtos orgânicos e naturais, várias organizações nacionais e internacionais buscaram definições de regras e padrões emitindo certificados que atendam os conceitos estabelecidos. Essas regras influenciam em todas as escolhas, da matéria prima até na toxicidade dos componentes, levando em consideração as reações de síntese e a produção.

Essas certificações ajudam a distinguir produtos orgânicos dos produtos de origem natural. Cosmético orgânico necessita apresentar, no mínimo, 95% de matérias-primas certificadas como 100% orgânicas e esses materiais devem ser tratados com adubos orgânicos, não podendo ser utilizados na sua produção antibióticos nem agrotóxicos. O solo, a água, os animais e as plantas precisam ser respeitados durante a fabricação de cosméticos orgânicos. Os 5% restantes podem ser compostos por água e por outras matérias-primas naturais. As embalagens de produtos orgânicos devem ser de produtos biodegradáveis.

Um outro detalhe sobre esse tipo de cosmético é a proibição de conservantes sintéticos em sua composição; esses conservantes auxiliam no controle microbiano e sem eles há grandes chances de ocorrer crescimento desses microrganismos.

Cosméticos naturais são menos complexos, os produtos naturais têm que apresentar entre 70% a 95% de produtos contendo matérias primas 100% naturais e os outros 5% podem ter componentes sintéticos.

Porém, cada tipo de certificado apresenta certas exceções, limitações e requisitos que necessitam ser obrigatoriamente respeitados para dar confiabilidade do produto e a segurança do consumidor.

Um exemplo dessas diferenças é a utilização do conservante fenoxietanol, no certificado IBD (certificadora de produtos orgânicos e sustentáveis da América Latina – este selo significa que o produto é cultivado sem substâncias químicas nem transgênicas, está em conformidade com as leis sanitária, ambiental e trabalhista nacionais e que esta garantia se estende aos fornecedores de matéria prima).
Este composto não é permitido, porém, no Ecocert, um grupo/certificado em relação a produtos orgânicos, o conservante pode fazer parte da composição. Cada certificadora padroniza um regulamento, umas são mais flexíveis, mas o regulamento final, normalmente, é bastante semelhante.

Já os cosméticos conhecidos como ocean friendly (“amigos do oceano”) possuem como ideologia o cuidado com ecossistema marinho, priorizando a não geração de impactos negativos neste ambiente. Essa preocupação surgiu após a percepção de que recifes de corais estavam sofrendo um processo de branqueamento por conta de alguns motivos como o uso exagerado de protetores solares pelos banhistas, sendo estes poluentes tóxicos para os corais. Recentemente no Brasil, o Senado discutiu recentemente um projeto de lei que visa proibir a venda dos protetores solares que contenham as substâncias reveladas tóxicas ao ambiente marinho.

A crescente preocupação com o meio ambiente como um todo tem se demonstrado na forma como as indústrias lançam e fabricam seus produtos. É importante valorizar todo este empenho e entender os reflexos destas atitudes futuramente, porém é relevante também refletir se os produtos vendidos por estas empresas realmente cumprem o rótulo que prometem, analisando se as mesmas colocam em prática os selos ecológicos.

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Autores: Luiza S. de Medeiro, Thais G. Flor, Victor Anjos, Giovana Gouveia, Lethícia C. Pereira, Emeli M. de Araújo e Samanta C. Mourão.

Referências:

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