O mundo está cada vez mais consciente sobre o consumo de cosméticos: o que comprar idealmente para sua pele, cabelos e unhas, de forma que não seja danoso para o seu organismo e que sejam produtos que não sejam testados em animais ou até mesmo que não possuam em sua composição substâncias de origem animal. No entanto, é preciso pensar no impacto ambiental do descarte desses produtos quando vencidos ou fora de uso, pois nós, consumidores, também somos responsáveis pelo meio ambiente em que vivemos.

De acordo com o último levantamento realizado pelo mercado Euromonitor Internacional, realizado em 2019 e publicado em 2020, o Brasil é o quarto maior mercado de produtos cosméticos no mundo, ficando atrás somente de Estados Unidos, China e Japão, isso somente quando se trata em termos totais, pois, em algumas categorias como perfumaria seu destaque é ainda maior. Para que se tenha uma ideia, em termos de números, o total de número de vendas de produtos de beleza no Brasil em 2019 foi de cerca de 30 bilhões de dólares e um valor tão grande gasto pelos consumidores leva ao questionamento de onde e como estes cosméticos comprados foram descartados. 

A ANVISA publicou a RDC nº 222/2018, sobre as Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos por empresas públicas, privadas, por civis e militares.

Nessa resolução os cosméticos estão classificados dentro do Grupo B, “resíduos contendo produtos químicos que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente”, ou Grupo D, “resíduos que não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente”, dependendo da sua formulação, o que varia a forma de descarte mesmo dentro desses grupos de forma geral.

Porém, não é incomum que alguém tenha dúvidas em como descartar um produto em casa, que não teve uso por falta de adaptação pessoal ou que estejam fora da validade. Dessa forma, nós separamos aqui algumas dicas que podem ajudar nesta questão.

Dependendo do tipo de cosmético, a forma correta de fazer o descarte é diferente:

  • alguns podem ser jogados na pia, no vaso ou ralo;
  • outros podem ser descartados com o lixo comum;
  • e ainda existem tipos específicos que exigem cuidados especiais.

Xampus, condicionadores e géis podem ser descartados no ralo quando há tratamento na rede de esgoto. Além deles, também podem ser descartados assim os géis e aqueles cremes que possuírem uma consistência mais líquida. Mas apenas em quantidades para consumo doméstico. Caso seja um profissional que trabalha com esses produtos, a sugestão é procurar pontos de coleta.

O protetor solar, os cremes e os produtos de maquiagem podem ser descartados junto com o lixo comum.

Estes serão encaminhados para o aterro sanitário, limitando a contaminação do meio ambiente, uma vez que aterros sanitários costumam ser isolados na área de depósito.

Diferentemente dos anteriores, esmaltes e removedores são considerados perigosos ao meio ambiente por apresentarem principalmente solventes na composição. Assim, precisam de um pouco mais de cuidado na hora do descarte.

O mais indicado é verificar onde são os pontos de coleta mais próximos.

  • Não conseguindo, também é possível fazer a limpeza da embalagem antes do descarte:

Despeja-se o conteúdo do frasco em algum material absorvente, como jornais e espera que o solvente evapore.

Esse material absorvente com o resíduo que não evaporou pode ser jogado no lixo comum.

Já produtos na forma de aerossol são inflamáveis e explosivos. Dessa forma, o mais recomendado é, novamente, procurar empresas especializadas ou pontos de coleta mais próximos.

Vale ressaltar que empresas especializadas costumam encontrar formas de reutilizar esses resíduos que são considerados perigosos, de forma a não agredir mais o ambiente para adquirir essa matéria prima. Então, mesmo com o descarte caseiro sendo possível, vale a pena esse cuidado a mais com substâncias consideradas perigosas.

O descarte correto de cosméticos se faz necessário devido ao seu impacto no ecossistema. Como exemplo podemos citar os protetores solares, que podem ser encontrados em altas concentrações no tecido adiposo de várias espécies de animais marinhos, indicando que o produto já se inseriu na cadeia alimentar. Isso é um problema pois estes produtos são tóxicos para muitas espécies de microalgas e fitoplâncton, interferindo na disponibilidade de oxigênio na água e também reduzindo a população de espécies da base da cadeia alimentar. Além disso, os protetores solares estão ligados ao embranquecimento de corais, que é um dos principais fatores que levam a destruição de recifes de coral e todo o ecossistema agregado.

Outro material importante são os microplásticos, frequentemente adicionados a produtos esfoliantes. Quando descartados de forma inadequada tendem a se acumular em fontes de água e interferir na reprodução, comportamento, desenvolvimento e metabolismo das espécies aquáticas desta região. Sua presença intrusiva nos oceanos e seus efeitos têm sido alvo de muitos estudos, principalmente considerando a possibilidade de efeitos nocivos à saúde humana. Para diminuir o impacto desse material no meio ambiente é importante tomar alguns cuidados durante o uso e ao descartar, o ideal é não deixar que os esfoliantes com microplásticos sejam enxaguados na água corrente, preferindo tirar o produto da pele com algodão úmido e descartar diretamente no lixo comum. O descarte desses produtos e suas embalagens pode ser feito no lixo comum. Entretanto a tendência atual na indústria é a substituição dos microplásticos para alternativas biodegradáveis, visto que existem países e organizações não governamentais recomendando cessar o seu uso.

Assim, descartar é tão importante quanto saber usar os produtos cosméticos e é fundamental para o consumo responsável dos mesmos.

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Autores: Rafaela Dutra, Iago M. Gonçalves, Matheus A. L. Falcão, Lethícia C. Pereira, Emeli M. de Araújo e Samanta C. Mourão.

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