Autores: Patrick de L. Barbosa e Emeli M. de Araújo.

Filtro Ultravioleta

Protetores solares são preparações cosméticas de grau 2 destinadas ao contato com a pele e lábios e que tenham a finalidade exclusiva, ou principal, de protegê-los contra os danos da radiação UVB e UVA, absorvendo, dispersando ou refletindo-as (RDC 752/2022).

A principal substância ativa do protetor solar é o filtro ultravioleta (UV), que  pode ser categorizado como inorgânico ou orgânico. Enquanto os filtros UV inorgânicos atuam principalmente refletindo e dispersando a radiação incidente, os filtros UV orgânicos apresentam componentes em suas estruturas capazes de absorver a radiação ultravioleta.

Mecanismos de ação dos filtros solares. Fonte: Brasil. Resolução – RDC Nº 629 de 10 de março de 2022. Dispõe sobre os protetores solares e produtos multifuncionais em cosméticos.

Objetivando garantir um amplo espectro de proteção e atingir valores adequados de FPS, a maioria das formulações fotoprotetoras disponíveis no mercado são misturas de vários filtros UV orgânicos e/ou inorgânicos. Os filtros UV inorgânicos, dióxido de titânio e o óxido de zinco , são os mais indicados para o uso infantil, gestantes e lactantes, em virtude da sua alta tolerabilidade e caráter hipoalergênico à peles mais sensíveis, no entanto essas substâncias  costumam ser menos adaptáveis aos tons de pele no geral, uma vez que por se tratarem de pós brancos insolúveis na formulação, existe uma alta propensão a deixar um aspecto esbranquiçado na pele.

A fim de maior favorecimento cosmético ao usar esses filtros UV, pode-se adicionar pigmentos com cor (protetor solar com cor) e/ou usar a nanoencapsulação ou micronização desses filtros UV, o que muitas vezes encarece a formulação e, além disso, pode gerar também resíduos derivados dessas partículas de menor dimensão, acumulando-se no ambiente, sendo esses os denominados “nano wastes”.

Os filtros UV orgânicos, por outro lado, costumam ser solúveis na formulação, portanto são mais adaptáveis aos tons de pele, apresentando assim  uma cosmética mais satisfatória, apesar de existirem evidências de que alguns desses tipos de filtro podem causar danos ao meio ambiente e também ao organismo.

 Sob esse ângulo, estudos já confirmam o potencial irritativo e fotossensibilizante de filtros UV orgânicos, podendo gerar radicais livres que causam danos à pele. Ademais, a absorção desses filtros UV pela pele, e a sua consequente distribuição sistêmica, podem gerar disrupção endócrina e toxicidade, alterando atividades hormonais e acumulando-se nos tecidos. Por essa razão, o uso de protetores solares que contenham esses princípios ativos é contraindicado para gestantes e lactantes, uma vez que podem gerar problemas no desenvolvimento fetal e serem excretados no leite materno, respectivamente.

Do ponto de vista ambiental, alguns filtros UV orgânicos, como a Oxibenzona, têm demonstrado que a sua deposição sobre a biota marinha produz efeitos tóxicos e nocivos, prejudicando o crescimento e fotossíntese de algas verdes, induzindo o branqueamento dos corais e danificando seu DNA, reduzindo a fertilidade de peixes, danificando imunologicamente os ouriços do mar e induzindo deformações em filhotes de golfinhos e mexilhões.

Além disso, outros filtros orgânicos comumente utilizados pela indústria e que já apresentam evidências de seus impactos ambientais, especialmente no que tange a vida marinha, são: Octinoxate; Octocrylene; 4-methylbenzylidene camphor e Ethylhexyl salicylate.

Alternativas Sustentáveis

Em virtude dessas evidências, alguns territórios como o Havaí (EUA) e Flórida (EUA) já proíbem a comercialização, desde 2021, de protetores solares que contenham os filtros orgânicos Oxibenzona e Octinoxato, a fim de diminuir o impacto sobre a vida marinha e fomentar a busca por novas alternativas não tóxicas e “amigas do mar”.

Hoje, já é possível encontrar certificações como “Friend of the Sea”, ou amigo do mar, ratificando que determinado produto necessariamente passou por testes laboratoriais específicos que comprovam sua segurança em relação à vida marinha.

Além disso, a pesquisa em torno da capacidade fotoprotetora de extratos vegetais têm crescido e se mostrado promissora. Nesse sentido, estudos acerca da capacidade oxidante e fotoprotetora de derivados da Castanha do caju, Uva (Resveratrol), Folhas de Oliveira e outras espécies revelam resultados satisfatórios, indicando que é possível incrementar essas alternativas vegetais à formulação de protetores solares.

Referências

Resolução – RDC Nº 629 de 10 de março de 2022. Dispõe sobre os protetores solares e produtos multifuncionais em cosméticos.

S. Bom, J. Jorge, H.M. Ribeiro, J. Marto, A step forward on sustainability in the cosmetics industry: A review. Journal of Cleaner Production, Volume 225, 2019, Pages 270-290.

MORABITO, K. et al. Review of sunscreen and the emergence of non-conventional absorbers and their applications in ultraviolet protection. International Journal of Cosmetic Science, v.33, p.385–390, 2011.

RUSZKIEWICZ, J.A. et al. Neurotoxic effect of active ingredients in sunscreen products, a contemporary review. Toxicology Reports, v. 4, p. 245–259,  2017.

SCHNEIDER, Samantha L.; LIM, Henry W. Review of environmental effects of oxybenzone and other sunscreen active ingredients. Journal of the American Academy of Dermatology, v. 80, n. 1, p. 266-271, 2019.

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