Autores: Beatriz Gonçalves da Luz e Emeli M. de Araújo

Desde a década de 80, a nanotecnologia tem sido aplicada no desenvolvimento de cosméticos, onde materiais e estruturas de dimensões nanométricas são aplicados em diferentes produtos a fim de melhorar a performance dos mesmos. Esses materiais nanotecnológicos podem ser classificados como nanoesferas, nanopartículas, nanoemulsões, lipossomas, entre outros e, em geral, possuem dimensões de 1 a 100 nanômetros (nm). O tamanho reduzido das partículas confere novas propriedades biológicas e físico-químicas, como o aumento da dispersibilidade, o que torna o sensorial do cosmético mais agradável. Porém, com o aumento significativo da produção e aplicação desses nanomateriais, surgiram novas formas de resíduos, conhecidos como “resíduos nano” ou “nano waste”.

O nano waste pode ser definido como o resíduo derivado de materiais com dimensões na faixa de 1 a 100 nm. Esses resíduos são compostos por partículas nanométricas que podem ser liberadas no meio ambiente durante a produção, uso ou descarte de produtos contendo nanotecnologia ou substâncias nas dimensões nano. Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos da América (Environmental Protection Agency (EPA)), existem 7 tipos de nanomateriais prejudiciais à saúde e/ou ao meio ambiente diante da possibilidade de persistência ou bioacumalação, dentre estes, 3 são encontrados em produtos cosméticos: nanopartículas de óxido de zinco (NP’s ZnO), nanopartículas de dióxido de titânio (NP’s TiO2) e nanopartículas de prata (NAg). 

Algumas nanopartículas usadas em cosméticos têm sido associadas a efeitos tóxicos nos ecossistemas terrestres e aquáticos. Estudos relataram que as nanopartículas de filtros UV inorgânicos usados nos protetores solares causam impactos aos animais aquáticos, por exemplo, as NP’s TiO2 promovem estresse oxidativo e alterações patológicas em espécies aquáticas, especificamente, na truta, um peixe presente em locais de águas frias. Outros estudos compararam os efeitos tóxicos do ZnO e das NP’s ZnO na Dunaliella tertiolecta, um tipo de alga marinha, e os resultados sugeriram que as NP’s ZnO foram mais tóxicas que o ZnO.

As nanopartículas de prata (NAg) são usadas em cosméticos destinados para o tratamento de diferentes acometimentos na pele, como foliculite, feridas, rosácea e dermatite atópica pois possuem efeito antiinflamatório, antimicrobiano e antisséptico. Entretanto, as NAg podem ser absorvidas pela pele, atingindo a circulação sanguínea e sendo acumuladas em órgãos como o fígado e o baço, assim como podem bioaculumar no meio ambiente, resultando no desequilíbrio de ecossistemas. 

Os nano wastes representam perigos à saúde humana, animal e ambiental e medidas devem ser tomadas para que o impacto desses materiais nanométricos seja reduzido. Desde 2011, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Organization for Economic Co-operation and Development (OECD)), uma organização internacional que busca encontrar soluções para desafios sociais, econômicos e ambientais, o grupo de Trabalho da OCDE sobre Produtividade de Recursos e Resíduos desenvolveu um relatório sobre quatro processos específicos de tratamento de resíduos: reciclagem, incineração, aterro e tratamento de águas residuais, a fim de entender melhor os riscos potenciais associados à presença de nano wastes em processos de tratamento de resíduos. O relatório pode ser lido aqui.  

Ainda, alguns fabricantes informam em suas embalagens que os cosméticos são “nano free” ou “livre de nano”, a fim de esclarecer que o produto não possui materiais nanotecnológicos, entretanto, não existe selo de certificação para esta categoria específica. Por outro lado, o selo “Reef Safe” ou “seguro para corais” surgiu através da organização sem fins lucrativos “Save the Reef” ou “salve o recife”, garantindo que os protetores solares não possuem materiais potencialmente tóxicos para a saúde dos recifes de corais.

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