A utilização de corantes no Brasil iniciou-se há muitos anos com o uso do corante vermelho obtido por meio do pau-brasil e com o passar dos anos, aumentou-se a procura por estes compostos nas indústrias brasileiras. A indústria normalmente recebe pigmentos e corantes em forma de pó, para então fazer a moagem, dispersão ou dissolução do material até o ponto desejado. Corantes e pigmentos também podem ser adquiridos pré-dispersos e prontos para o uso – na forma líquida ou em pasta –, já beneficiados com aditivos, estabilizantes e outros componentes. Por isso, sabemos que corantes e pigmentos são materiais determinantes nas características finais de um produto e, consequentemente, na sensação de beleza causada pelo uso de um cosmético e no sucesso do mesmo.

Os corantes e os pigmentos possuem como semelhança a possibilidade de conferir cor aos cosméticos além de ambos poderem ser tanto de origem natural quanto sintética. A principal diferença entre estes compostos está relacionada ao fato de que os corantes são substâncias solúveis e promovem apenas o tingimento do produto, enquanto os pigmentos são insolúveis e proporcionam simultaneamente a cobertura, a opacidade e o tingimento. Dessa forma, os corantes mantêm a transparência do objeto mesmo após a tintura. Outra diferença significativa entre os compostos mencionados é que os corantes possuem um poder tintorial muito superior ao do pigmento, ou seja, é necessário uma quantidade muito maior de pigmento para atingir a mesma coloração proporcionada pelos corantes. 

Existem pigmentos que proporcionam proteção e efeitos decorativos:

Como os metálicos (usados em batons e sombras, por exemplo) e os de efeito perolizado.

Corantes também são empregados em produtos transparentes e coloridos, como perfumes, brilhos labiais, cremes, sabonetes e xampus.

Legislação

A RDC 44, de 9 de agosto de 2012, publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), estabelece uma grande lista de substâncias corantes permitidas para uso em cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumes.

A Anvisa também informa o tipo de aplicação permitida para essas substâncias, numa classificação que varia de 1-4. Essa lista divide em:

  1. Corantes que podem ser utilizados em largo espectro, em todos os tipos de produtos;
  2.  Corantes que podem ser utilizados em todos os tipos de produtos, exceto aqueles que são aplicados na área dos olhos; 
  3. Corantes que devem ser utilizados exclusivamente em produtos que não entram em contato com mucosas, nas condições normais ou previsíveis de uso; 
  4. Corantes que devem ser utilizados exclusivamente em produtos que tenham breve tempo de contato com a pele e os cabelos;
Trecho da RDC n° 44/2012 (ANVISA) indicando quais corantes são permitidos para cosméticos.

Utilização de pigmentos em cosméticos

O primeiro cosmético moderno para os olhos e desenvolvido para uso diário foi criado em meados de 1917, por um jovem chamado T.L. Williams, a partir da mistura de duas matérias primas: vaselina e carvão. Para a identidade do produto, ele uniu o nome da irmã, Maybel, às quatro últimas letras da palavra vaseline e assim Williams lançava a Maybelline Cake Mascara. O grande sucesso do produto levou ao desenvolvimento de outros itens, como: sombras, delineadores e linhas de batons e esmaltes.

A púrpura era a cor da nobreza e das autoridades religiosas. Seu uso denotava status social, uma vez que eram necessárias grandes bateladas de moluscos para produzir quantidades ínfimas de corante.

De forma simplificada, os pigmentos inorgânicos têm maior opacidade e poder de cobertura e de tingimento, já os orgânicos têm mais brilho e transparência. Os pigmentos inorgânicos se dividem em sintéticos e naturais. Os naturais normalmente são óxidos e oferecem menor cobertura, maior dificuldade de dispersão e menor poder tintorial. Já os pigmentos inorgânicos sintéticos proporcionam maior cobertura, uniformidade da cor e melhor dispersão.

Dentre os inorgânicos, tem destaque o dióxido de titânio, o pigmento branco mais usado em vários setores da indústria. Os óxidos de ferro estão entre os pigmentos inorgânicos coloridos mais utilizados, pois possuem ampla variedade de tons e são resistentes à luz. São utilizados em itens como máscaras para cílios, lápis, sombras e blushes.

Os pigmentos possibilitam a criação de bases mais fluidas e com grande e com grande capacidade de cobertura da pele pois é possível adicionar maior carga de pigmentos, sem comprometer a viscosidade do sistema, além de proporcionar maior desenvolvimento da cor.

É importante afirmar que a procedência dos cosméticos deve ser sempre checada antes de serem comprados e consumidos. Assim como alimentos, cosméticos também podem conter substâncias capazes de gerar reações inflamatórias e alérgicas ao usuário, tanto de forma imediata quanto com o uso ao longo prazo. A presença de metais potencialmente tóxicos como chumbo, cromo, níquel e cádmio em cosméticos de qualidade duvidosa é um fator muito preocupante e perigoso, pois ainda que em quantidades mínimas, são substâncias altamente tóxicas e bioacumulativas no organismo e que podem provocar o aparecimento de doenças graves.

Por serem mais poluentes e prejudiciais à saúde, os pigmentos à base de cromo, chumbo e cádmio foram substituídos por pigmentos orgânicos, como os produzidos via o petróleo e o carvão de hulha: ftalocianinas, quinacridonas e dioxazinas.

Utilização de corantes em tinturas capilares

Fonte: Archive of Market and Social Research

Um estudo realizado pelo Target Group Index demonstrou que 26% da população adulta brasileira utiliza tintura de cabelo, sendo a maioria feminina, o que representa um desafio constante para as indústrias de cosméticos para oferecerem produtos com maior variedade de cores e eficientes, promovendo a durabilidade da cor. 

Com a grande busca para cobrir os fios brancos ou cinza dos cabelos, os corantes à base de sais metálicos, geralmente acetato de chumbo, são os mais utilizados. Porém, no Brasil seus produtos de uso pessoal foram restritos a uma concentração máxima 0.6% devido à toxicidade deste metal e seu efeito acumulativo no organismo. As tinturas capilares apresentam os corantes como os responsáveis pela cor formada.

Já os corantes sintéticos podem ser classificados de acordo com o tempo de fixação no cabelo:

  • temporário;
  • semi-permanente;
  • permanente.

E pelo mecanismo de reação com o fio de cabelo:

  • corantes oxidativos (tinturas permanentes);
  • corantes diretos (tinturas temporárias e semi-permanentes).

Além disso, a nomenclatura do Índice Internacional de Corantes (Colour Index), sediado nos Estados Unidos, utiliza um código para cada cor:

  • Corantes temporários: podem ser básicos ou ácidos e são muito solúveis em água. Geralmente são utilizados para mascarar os cabelos brancos ou para atingir tons vibrantes (violeta, rosa, azul e lilás) e são depositados temporariamente na estrutura externa no fio capilar, sendo facilmente removíveis por lavagem. 

Exemplos: Acid Yellow I CI 10316; Basic Red 76 CI 12245.

  • Corantes semi-permanentes: são responsáveis apenas por 10% do mercado e não é possível clarear os fios do cabelo com estes compostos, apenas escurecer. Possuem um maior efeito duradouro e mudam a tonalidade do cabelo sem provocar alterações drásticas. 

Exemplos: N-(2-hidroxietil)-o-nitroanilina HC Yellow Nº1; O,N-bis(2-hidroxietil)-2-amino-5-nitrofenol HC Yellow Nº4.

  • Corantes permanentes: as tinturas contendo essas substâncias são as mais utilizadas mundialmente e são baseadas na reação entre três componentes (agente precursor, agente acoplador e oxidante em meio alcalino) que são misturados antes do uso. O corante propriamente dito é formado no próprio cabelo, por meio de reações químicas, e a tonalidade final da coloração depende da composição, quantidade, pH, tempo e temperatura de reação, e velocidade de difusão dos componentes para o interior do fio de cabelo. Neste tipo de coloração é importante fiscalizar o potencial de toxicidade e alergênico aos seres humanos, por terem uma maior penetração no couro cabeludo e uma maior durabilidade.

Toxicidade dos corantes nas tinturas capilares

Antigamente não acreditava-se que os corantes presentes nas tinturas capilares poderiam causar malefícios para o organismo humano. Hoje, já é conhecido que os produtos topicamente aplicados podem ser absorvidos, levando a diversos efeitos sistêmicos. A regulamentação das tinturas de cabelo varia de acordo com o país.

Fonte: UFPB

Aqui no Brasil, o Ministério da Saúde divulgou uma lista contendo os corantes permitidos para produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, indicando a cor e suas nomenclaturas internacionais; como por exemplo a coloração verde (10006) e amarelo (11680).

Em alguns estudos realizados acerca da toxicidade de tinturas capilares demonstraram que os precursores, como o resorcinol, usado como ingrediente na formulação de corantes, atuam como desreguladores endócrinos afetando a função da tireoide. Outro precursor, p-fenilenodiamina (PPD), utilizado em tinturas permanentes, têm levantado preocupações para a saúde humana devido a riscos associados a alergias, dermatites e nefrotoxicidade. O uso de PPD também já foi relacionado a incidência de câncer devido à presença dos componentes ou seus derivados na urina de usuários, indicando que os compostos cancerígenos, de fato, alcançam o órgão alvo quando relacionado ao uso regular de corantes de cabelo. 

Entretanto, ainda há poucos estudos focando nas consequências para o meio ambiente e saúde humana envolvendo os corantes. Dessa forma é de extrema necessidade mais pesquisas serem desenvolvidas, visto que são utilizados de maneira extensa por nós e já foi comprovado que podem ser absorvidos pela pele.

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Autores: Gabriela W. Schiessl, Luiza S. de Medeiro, Lethícia C. Pereira e Emeli M. de Araújo

Referências bibliográficas:

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