Autores: Iago M. Gonçalves, Fernanda L. F. de Assis, Ana Rebecca S. de Souza, Julia D. A. Monteiro, Heloisa F. S. de Sousa e Emeli M. de Araújo.

A pele é o maior órgão do corpo humano, tendo como  principal função a proteção dos tecidos.  Ela também é dividida em 2 camadas: epiderme e derme, e logo abaixo encontra-se o tecido adiposo. Além disso, ela passa por mudanças ao longo dos anos, ocorrendo alterações de acordo com a faixa etária, principalmente com o avanço da idade. Junto a isso, há o aparecimento de rugas, pálpebra caída (ptose), flacidez, manchas e lassidão.

Partindo desse pressuposto, com a crescente expectativa de vida da população, o tema sobre envelhecimento cutâneo ganha bastante atenção, havendo ainda o aumento pela busca de procedimentos e produtos para retardar esse processo, visto que essas alterações no tecido, além de apresentarem um importante impacto social, influenciam  na autoestima dos indivíduos. Junto a isso, a função fisiológica do órgão pode diminuir, perdendo a função de barreira (proteção), que pode chegar a 50% na meia idade.

O processo de envelhecimento cutâneo é complexo e existem fatores extrínsecos e intrínsecos que influenciam o mesmo.

  • Os fatores extrínsecos consistem em fatores ambientais que afetam a pele, dentre eles: consumo de álcool, má alimentação, tabagismo e, principalmente, exposição à radiação solar ultravioleta (UV), que contribui em até 80% para o envelhecimento cutâneo, além de provocar consequências mais severas, como o câncer de pele;

Tanto a radiação UVA quanto a UVB são responsáveis pelo dito fotoenvelhecimento cutâneo, mas a radiação UVA é a que mais contribui para o aparecimento de quase todas as características visíveis relacionadas ao fotoenvelhecimento, pois penetra mais profundamente na derme, causando danos tanto à derme quanto à epiderme, induz enzimas que degradam os componentes da matriz extracelular (MMPS) e também promove a redução ou alteração da síntese de colágeno. Esse colágeno alterado reduz a síntese de colágeno novo e provoca pouca adesão dos fibroblastos a estas moléculas alteradas. Além disso, afeta indiretamente as moléculas de DNA, gerando espécies reativas de oxigênio que atuam na ativação de fatores envolvidos na transcrição do DNA, resultando em mutações. 

Já a radiação UVB é majoritariamente atinge a epiderme e é capaz de causar danos ao DNA. O eritema (queimadura) é o efeito agudo gerado principalmente após exposição a essa radiação.

Outro fator extrínseco que contribui para o envelhecimento cutâneo é o tabagismo, que promove a ruptura do tecido elástico, levando a uma pele amarelada, espessa e irregular.

Aparentemente, o tabagismo também induz a ativação de MMPs, assim como o que acontece em pessoas com exposição solar significativa. Fumar também reduz a hidratação do estrato córneo facial, bem como os níveis de vitamina A, importante para reduzir os danos causados ao colágeno. 

O  consumo de álcool também promove o envelhecimento cutâneo, pois promove a alteração de enzimas e estimula a formação de radicais livres, estruturas muito reativas que levam a danos nos componentes lipídicos celulares, principalmente as estruturas de membrana, resultando em morte ou mutação celular.

A teoria dos radicais livres é uma das teorias que explica as causas do envelhecimento cutâneo, sendo grandes contribuintes no envelhecimento celular e um dos focos quando se fala em cosméticos para a prevenção do envelhecimento. 

Além disso, a alimentação é um dos fatores extrínsecos que contribuem para o envelhecimento. Alimentos ricos em açúcares, gordura e embutidos propiciam o aumento do estresse oxidativo, acelerando a produção de radicais livres e por serem alimentos pró-inflamatórios, geram uma maior resposta micro inflamatória envelhecendo o tecido cutâneo e outros.

A inflamação é uma resposta normal e natural do organismo quando o organismo precisa combater infecções, porém, processos inflamatórios crônicos dão origem ao chamado inflammaging. Além de uma má alimentação, esse processo também é causado por estresse diário, poluição e sedentarismo e é caracterizado por enfraquecimento da barreira cutânea, resultando na degradação de elastina e colágeno, causando envelhecimento precoce. 

Ademais, o alto consumo de açúcar aumenta o processo de glicação, fazendo com que moléculas do carboidrato se liguem às proteínas colágeno e elastina e as danifiquem, favorecendo o aparecimento de rugas e perda de elasticidade da pele.

  • Quanto aos fatores intrínsecos relacionados ao envelhecimento da pele (ou conhecidos como fatores cronológicos), são caracterizados por alterações genéticas e/ou metabólicas que são capazes de gerar perda de colágeno e até mesmo uma degeneração tecidual, sendo esse envelhecimento intrínseco da pele caracterizado por uma atrofia das estruturas cutâneas, com decréscimo de densidade na derme; redução na vascularização; alteração na junção derme-epiderme e redução do número e tamanho das células epiteliais.

Diferem-se dos fatores extrínsecos pelo fato de suas mudanças características serem visíveis também em áreas que não sofrem tanta exposição da luz solar, visto que são processos considerados naturais e previsíveis.  

A camada basal é a camada mais profunda da epiderme, fazendo contato direto com a derme. Nela, ocorrem intensas divisões celulares, renovando a epiderme e fornecendo novas células para substituir as perdidas. Porém, no envelhecimento intrínseco da pele, as principais mudanças histológicas ocorrem justamente dentro dessa camada de células basais.

Com o passar dos anos, existe a tendência da diminuição das fibras elásticas na derme. As fibras colágenas apresentam-se mais frouxamente dispersas e há uma deficiência na ancoragem das fibras nas papilas dérmicas.

Na epiderme observa-se uma redução da atividade do sistema imune (redução das células de Langerhans e monócitos), uma diminuição na síntese de melanina e consequente diminuição na pigmentação da pele (tornando-se mais vulnerável à radiação UV).

Com isso, os fatores intrínsecos muitas vezes podem ser responsáveis por uma pele mais ressecada, fina e pálida, com presença de rugas superficiais. Somados aos fatores extrínsecos, darão à pele o seu aspecto final, explicando-se o porquê de pessoas com a mesma idade apresentarem alterações cutâneas diferentes ao longo dos anos.

Ativos Utilizados em Formulações para  Prevenção do Envelhecimento Cutâneo 

Como dito anteriormente, o envelhecimento cutâneo se dá por uma série de fatores, e, com o objetivo de retardar esse processo, existem ativos que podem ser utilizados em formulações dermocosméticas, chamados de produtos anti-idade, que,  de maneira geral, previnem o aparecimento dos sinais de envelhecimento cutâneo por apresentarem ação antioxidante, neutralizando radicais livres, grandes contribuintes do processo de envelhecimento.

  • Dentre esses ativos, destacam-se a vitamina C (ácido ascórbico), a vitamina E, e a coenzima Q10. Existem diversos outros, mas focaremos nesses para um panorama geral.

Esses 3 princípios ativos possuem ações diferentes e podem ser utilizados em conjunto ou separados. Alguns detalhes sobre a vitamina C é que, para ação mais duradoura, é interessante utilizá-la quando for ficar em casa ou for demorar a sair, porque a radiação UV e o vento podem degradá-la, diminuindo seu tempo de ação.

Além disso, para a ação na pele, é recomendado produtos cosméticos que possuam ácido ascórbico. A suplementação, ou seja, a ingestão da vitamina C, possui seus próprios objetivos.

Sobre a coenzima Q10, a forma farmacêutica onde ela se sobressai são os lipossomas, pois melhoram sua difusão. Ou seja, consegue atingir mais camadas da pele do que em outras formas farmacêuticas.

Por fim, a vitamina E é um excelente princípio ativo para ação preventiva. Ela dificulta a formação dos radicais livres e é, dos três, a substância com menor probabilidade de gerar uma dermatite de contato.

Rotina de Cuidados com a Pele para Cada Idade

Frente ao exposto, pode-se dizer que uma rotina de cuidados com a pele é essencial para preservar e prolongar a saúde da pele, pois, por ser um órgão que vive em constante transformação, com o passar dos anos sofre mudanças decorrentes do tempo, ocasionando alterações significativas em suas funções fisiológicas e estruturais. Por isso, é importante que essa rotina de cuidados seja específica para a faixa etária do indivíduo, de forma a se adequar às necessidades daquela pele e ser uma rotina eficaz. 

  • Assim, seguem algumas recomendações de rotinas básicas de cuidados com a pele de acordo com a faixa etária: 

Aos 20 anos: considera-se que o envelhecimento cutâneo se inicia a partir dos 20 anos de idade, observando-se o aparecimento de linhas finas. Há uma redução gradual da formação de colágeno a uma taxa de 1% ao ano, tornando a pele menos flexível e mais fina, ou seja, reduz-se também a barreira natural de proteção da pele.

Assim, o primeiro passo mais importante para manter uma pele jovem adulta saudável e bonita é implementar diariamente o uso de protetor solar, visto que os raios UV contribuem em até 80% para o envelhecimento cutâneo. A aplicação do protetor solar deve ser realizada 30 minutos antes da exposição solar e repetida a após 30 minutos de exposição. Depois, deve ser reaplicado de duas em duas horas, sempre fazendo o uso da quantidade correta (uma colher de chá para o rosto, pescoço e orelhas; uma colher de chá para o colo e outra para a parte posterior do tronco; e uma colher de chá para cada braço).

Além disso, a limpeza da pele com sabonetes adequados é essencial, porque as impurezas da pele impedem a penetração dos produtos dermocosméticos. A limpeza deve ser feita duas vezes por dia visando a desobstrução dos poros e para permitir a respiração da pele. 

Também é aconselhado realizar a hidratação da pele após a limpeza, de forma a evitar uma produção exacerbada de sebo, que pode ocorrer quando a limpeza realizada é excessiva e a pele busca  compensar o sebo retirado em excesso, é o chamado efeito rebote. 

Ativos como a vitamina C e retinol podem ser incluídos à rotina se indicados por um profissional qualificado. 

Aos 30:  a produção de colágeno continua a decair a uma taxa de 1% ao ano, sua síntese pelos fibroblastos é diminuída decorrente da baixa divisão mitótica, pois os processos metabólicos das células começam a diminuir. Há uma maior dificuldade de retenção da hidratação da pele, pois esta passa a produzir menos ácido hialurônico e há degradação do ácido hialurônico existente. A pele então torna-se mais seca, com mais linhas finas, rugas e sem viço. 

Assim, além dos cuidados utilizados aos 20 anos, é necessário incluir hidratantes com agentes mais umectantes e oclusivos, de forma a reduzir a perda de água e retinóides que estimulam a produção de colágeno.

Também é interessante incluir esfoliantes para promover a renovação celular e utilizar cremes para a área dos olhos, que já é naturalmente mais fina e predisposta a linhas e rugas. 

Alguns procedimentos estéticos, como a aplicação de toxina botulínica, podem ser indicados a fim de prevenir rugas futuras.

Dos 40 ao final dos 50: perde-se a organização das camadas individuais da epiderme, a pele se torna ainda mais fina e áspera, pois as células existentes nessa camada da pele encolhem e há uma redução significativa na formação de novas células. Começam a aparecer manchas de hiperpigmentação, tem-se perda da elasticidade e a pele adquire uma textura irregular, pois tem início a degeneração dos tecidos conectivos da derme, que perdem sua estrutura fibrosa e a habilidade de se ligar à moléculas de água, levando à formação de rugas mais profundas e perda de definição do contorno facial. Ocorre a redução gradual do fluxo sanguíneo da derme, diminuindo a oferta de nutrientes, o viço e levando ao possível aparecimento de capilares rompidos. 

Há também uma redução gradual do tecido adiposo, reduzindo o preenchimento e volume da pele, contribuindo para o aparecimento de rugas mais profundas. 

Pode-se acrescentar à rotina ativos como a hidroquinona, que ajuda a minimizar a hiperpigmentação e a cafeína, que estimula a circulação sanguínea. 

Dos 60 em diante: além do gradual declínio na produção do colágeno e ácido hialurônico, a capacidade da pele de produzir lipídios também diminui, resultando em uma pele ressecada, desidratada e com rugas mais marcadas. Como a pele também está mais fina, fica ainda mais sensível à radiação UV, o que leva ao aparecimento de manchas hiperpigmentadas características da idade, conhecidas como manchas de idade. É de extrema importância que essas manchas sejam verificadas regularmente por um dermatologista, visto que há um maior risco de se desenvolver o câncer de pele. 

Pode-se utilizar um sabonete mais suave para a limpeza, evitando uma remoção exagerada dos óleos naturais da pele, que nessa idade já não são abundantes. Utilizar formulações de retinóides mais hidratantes para evitar que a pele resseque e também pode-se incluir óleos ou emulsões na rotina para nutrir a pele. 

Sabendo o que acontece com a pele em diferentes faixas etárias, torna-se mais fácil reconhecer as necessidades da sua pele, mas é válido ressaltar que a limpeza, hidratação e a aplicação de protetor solar diárias são etapas que devem fazer parte da rotina de cuidados em todas as idades, podendo ser incluídas etapas e produtos adicionais indicados por um profissional qualificado.

Além disso, manter hábitos de vida saudável também permite retardar o envelhecimento cutâneo, com uma alimentação regrada incluindo todos os macro e micronutrientes necessários, prática contínua de atividade física, evitando o consumo de álcool, o tabagismo e o estresse são maneiras de manter uma pele saudável.

Conclusão

Tendo em vista que com o avançar da idade a composição e estrutura da pele mudam, as necessidades daquela pele também variam. Assim, pessoas de diferentes faixas etárias devem apresentar rotinas de cuidado distintas, utilizando dermocosméticos específicos que atendam às necessidades de cada pele. Dessa forma, não é recomendado usar produtos que não sejam indicados para sua idade, visto que a formulação desses produtos é desenvolvida de acordo com as características da pele do público alvo a quem esse produto é direcionado, ou seja, o uso de um dermocosmético desenvolvido para uma faixa etária diferente da sua não trará os benefícios esperados.

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