Os padrões de beleza não são os mesmos. Sucessivas mudanças vêm ocorrendo ao longo dos anos, ocasionando a necessidade de aperfeiçoamento e adequação do mercado cosmético. Em tempos atrás, no âmbito de cuidados com o cabelo, o enfoque era, principalmente, para elaboração de produtos voltados para cabelos lisos, que por muito tempo foram vistos como ideal. Já para cabelos cacheados e crespos não existiam muitos cosméticos específicos e, além da complexidade para cuidar, a inserção dentro da norma estética conduziu a procura por técnicas e produtos químicos para o alisamento dos mesmos. Com esses procedimentos, a saúde dos fios danifica-se dificultando ainda mais o tratamento deste tipo de cabelo e é também um perigo para a saúde do consumidor por estar submetido à utilização de compostos tóxicos. No entanto, a realidade agora é outra e a busca pela valorização da própria identidade está cada vez mais presente, dando-se, desse modo, mais contribuição para o aumento de produtos direcionados aos fios cacheados e crespos.

O cabelo, além do aspecto estético, tem função de proteger a cabeça de raios solares por meio da melanina, que também é responsável pela coloração do mesmo. Ele pode ser de vários tipos, no entanto, a estrutura básica de todos eles é igual. 

São compostos de uma medula (a parte ativa do cabelo, com células que sintetizam queratina, chamadas queratinócitos), um córtex, responsável pela proteção da medula, pelo formato do cabelo e pela sua cor (sendo formado majoritariamente por queratina e também por melanina) e uma cutícula, que é a camada mais externa do fio, composta de células achatadas e sobrepostas e também feita de queratina (Figura 1).

Figura 1: Esquema das estruturas dos componentes do fio de cabelo (SANTOS, 2017).

O córtex capilar é a única porção do fio que é variável de acordo com o tipo. Ocorre uma variação na sua secção transversal.

Os cabelos lisos (1) possuem secção transversal redonda, já os cabelos ondulados (2A até 2C) possuem secção transversal grossa e circular. Os cabelos cacheados (3A até 3C) possuem secção transversal oval ou em formato de elipse, enquanto os cabelos crespos/afros (4A até 4C) possuem uma secção transversal elíptica e mais achatada (Figura 2).

Figura 2: Classificação dos diferentes tipos de cabelo (KEROTIN, 2018).

E o que significam os números e letras?

Os números:

  1. cabelo liso, sem ondas;
  2. cabelo com uma leve ondulação;
  3. cabelos cacheados;
  4. cabelos crespos;

As letras:

  • A: estão os cabelos com padrões de ondulação mais soltos;
  • B: o cabelo tem alguma ondulação mais definida;
  • C: é onde os cachos são os menores e mais definidos de cada grupo.

O cabelo crespo/afro

Devido a sua curvatura, a oleosidade natural do couro cabeludo não alcança o comprimento e as pontas do cabelo tipo 4, tornando-o mais ressecado que os demais e também mais volumosos.

Eles ainda são subdividos em categorias conforme o padrão do cacho e suas características:

  • O tipo 4A é mais fino e mais frágil do que o anterior (3C). Os fios se mantêm unidos e possuem um formato em “S”, porém mais fechado, com espirais e espessura bem finas, o que ocasiona a conformação de molas naturais;
  • O tipo 4B também apresenta fios finos, porém bem dobrados, sendo ainda mais frágeis. Possuem ausência de formação de ondas definidas e são seguidas de ângulos agudos em formato de “Z”, encurtando cerca de 75% do seu comprimento real;
  • O tipo 4C varia de fios finos, grossos e dobrados. No entanto, não possui forma e dificilmente irá seguir um padrão, sendo o tipo que mais sofre com o fator de encolhimento em comparação com o seu tamanho normal.

Cuidados com o cabelo crespo/afro

Para cuidar é importante escolher os produtos cosméticos específicos para o tipo de fio. Por serem naturalmente secos, os fios requerem hidratação e, por isso, são indicados cosméticos que proporcionem maior condicionamento e maciez, bem como melhor definição aos cachos, recuperando a elasticidade e mantendo o brilho.

Além disso, é recomendado que esse tipo de cabelo seja hidratado uma vez por semana.

Vale ressaltar que, na hora de lavar o cabelo, o xampu deve ser aplicado apenas no couro cabeludo. Não deve passar no comprimento.

Isso porque, em cabelos excessivamente ressecados, o sulfato presente nas formulações representa perigo uma vez que, devido às suas propriedades, podem propiciar enfraquecimento capilar se em contato com o comprimento do cabelo, dermatites de origem alérgica e lesões no couro cabeludo, especialmente se não houver enxágue adequado.

Um exemplo para evitar esses malefícios são as composições de xampus sem tensoativos sulfatados, denominados “sulfate free”, sugeridos para cabelos naturalmente mais finos e frágeis, propensos à quebra.

Uma proposta seria utilizar, intercaladamente, produtos com e sem sulfato contendo, ainda, ação hidratante a fim de prevenir a quebra dos fios.

Dessa forma, as impurezas serão eliminadas sem alterar as propriedades naturais do couro cabeludo e da haste do fio.

Já os condicionadores não devem ser aplicados perto do couro cabeludo, assim como produtos leave-in.

Os produtos leave-in são semelhantes aos condicionadores, sendo um tipo de finalizador que pode ser ter consistência:

E protegem o cabelo da poeira, do sol, além de ajudar a controlar o volume, reduzir o frizz e a modelar os cachos.

Diferente dos cremes para pentear tradicionais, o leave-in tem uma textura mais leve e são aplicados nos fios já limpos e úmidos, sem enxágue.

A formulação do leave-in contém:

  1. agentes condicionantes;
  2. quelantes;
  3. emulsionantes;
  4. emolientes;
  5. espessantes.

O pH do produto irá depender do que se deseja obter. Por exemplo, para condicionadores e produtos de ação rápida (1-3 minutos) são adicionados acidulantes (reduzem o pH), que atenuam cargas eletrostáticas e ajudam a desembaraçar os fios. Já máscaras, que necessitam de um período maior de aplicação (pelo menos 15 minutos), contam com a adição de alcalinizantes de origem orgânica e inorgânica que aumentam o pH.

Esse aumento permite a abertura da cutícula para que o produto adentre tanto nela quanto no córtex agindo mais lentamente.

A formulação do leave-in deve manter um pH ácido em torno de 3 a 4 para que as reações das matérias primas tenham eficácia. 

E o volume do cabelo pode ser regulado com os cortes certos. Ou seja, cortes degradês, picotados e quadrados mantêm os fios mais longos, pesando mais e, consequentemente, diminuindo o volume. Já os cortes retos, desfiados em camadas suaves e a partir do queixo, definem melhor os cachos garantindo cabelos mais curtos.

E se você curte um Black Power…

O ideal é deixar acontecer naturalmente e depois só aplicar o leave-in para finalizar.

Mas cuidado! Aplicar produto demais, principalmente próximo ao couro cabeludo, pode causar caspa cosmética. Tudo em equilíbrio.

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Autoras: Lethícia Carvalho Pereira, Clara Souto Ferraz, Samanta Cardozo Mourão e Emeli Moura de Araújo

Referências Bibliográficas:

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