Os padrões de beleza não são os mesmos. Sucessivas mudanças vêm ocorrendo ao longo dos anos, ocasionando a necessidade de aperfeiçoamento e adequação do mercado cosmético. Em tempos atrás, no âmbito de cuidados com o cabelo, o enfoque era, principalmente, para elaboração de produtos voltados para cabelos lisos, que por muito tempo foram vistos como ideal. Já para cabelos cacheados e crespos não existiam muitos cosméticos específicos e, além da complexidade para cuidar, a inserção dentro da norma estética conduziu a procura por técnicas e produtos químicos para o alisamento dos mesmos. Com esses procedimentos, a saúde dos fios danifica-se dificultando ainda mais o tratamento deste tipo de cabelo e é também um perigo para a saúde do consumidor por estar submetido à utilização de compostos tóxicos. No entanto, a realidade agora é outra e a busca pela valorização da própria identidade está cada vez mais presente, dando-se, desse modo, mais contribuição para o aumento de produtos direcionados aos fios cacheados e crespos.
O cabelo, além do aspecto estético, tem função de proteger a cabeça de raios solares por meio da melanina, que também é responsável pela coloração do mesmo. Ele pode ser de vários tipos, no entanto, a estrutura básica de todos eles é igual.
São compostos de uma medula (a parte ativa do cabelo, com células que sintetizam queratina, chamadas queratinócitos), um córtex, responsável pela proteção da medula, pelo formato do cabelo e pela sua cor (sendo formado majoritariamente por queratina e também por melanina) e uma cutícula, que é a camada mais externa do fio, composta de células achatadas e sobrepostas e também feita de queratina (Figura 1).
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O córtex capilar é a única porção do fio que é variável de acordo com o tipo. Ocorre uma variação na sua secção transversal.
Os cabelos lisos (1) possuem secção transversal redonda, já os cabelos ondulados (2A até 2C) possuem secção transversal grossa e circular. Os cabelos cacheados (3A até 3C) possuem secção transversal oval ou em formato de elipse, enquanto os cabelos crespos/afros (4A até 4C) possuem uma secção transversal elíptica e mais achatada (Figura 2).
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E o que significam os números e letras?
Os números:
- cabelo liso, sem ondas;
- cabelo com uma leve ondulação;
- cabelos cacheados;
- cabelos crespos;
As letras:
- A: estão os cabelos com padrões de ondulação mais soltos;
- B: o cabelo tem alguma ondulação mais definida;
- C: é onde os cachos são os menores e mais definidos de cada grupo.
O cabelo crespo/afro
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Devido a sua curvatura, a oleosidade natural do couro cabeludo não alcança o comprimento e as pontas do cabelo tipo 4, tornando-o mais ressecado que os demais e também mais volumosos.
Eles ainda são subdividos em categorias conforme o padrão do cacho e suas características:
- O tipo 4A é mais fino e mais frágil do que o anterior (3C). Os fios se mantêm unidos e possuem um formato em “S”, porém mais fechado, com espirais e espessura bem finas, o que ocasiona a conformação de molas naturais;
- O tipo 4B também apresenta fios finos, porém bem dobrados, sendo ainda mais frágeis. Possuem ausência de formação de ondas definidas e são seguidas de ângulos agudos em formato de “Z”, encurtando cerca de 75% do seu comprimento real;
- O tipo 4C varia de fios finos, grossos e dobrados. No entanto, não possui forma e dificilmente irá seguir um padrão, sendo o tipo que mais sofre com o fator de encolhimento em comparação com o seu tamanho normal.
Cuidados com o cabelo crespo/afro
Para cuidar é importante escolher os produtos cosméticos específicos para o tipo de fio. Por serem naturalmente secos, os fios requerem hidratação e, por isso, são indicados cosméticos que proporcionem maior condicionamento e maciez, bem como melhor definição aos cachos, recuperando a elasticidade e mantendo o brilho.
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Além disso, é recomendado que esse tipo de cabelo seja hidratado uma vez por semana.
Vale ressaltar que, na hora de lavar o cabelo, o xampu deve ser aplicado apenas no couro cabeludo. Não deve passar no comprimento.
Isso porque, em cabelos excessivamente ressecados, o sulfato presente nas formulações representa perigo uma vez que, devido às suas propriedades, podem propiciar enfraquecimento capilar se em contato com o comprimento do cabelo, dermatites de origem alérgica e lesões no couro cabeludo, especialmente se não houver enxágue adequado.
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Um exemplo para evitar esses malefícios são as composições de xampus sem tensoativos sulfatados, denominados “sulfate free”, sugeridos para cabelos naturalmente mais finos e frágeis, propensos à quebra.
Uma proposta seria utilizar, intercaladamente, produtos com e sem sulfato contendo, ainda, ação hidratante a fim de prevenir a quebra dos fios.
Dessa forma, as impurezas serão eliminadas sem alterar as propriedades naturais do couro cabeludo e da haste do fio.
Já os condicionadores não devem ser aplicados perto do couro cabeludo, assim como produtos leave-in.
Os produtos leave-in são semelhantes aos condicionadores, sendo um tipo de finalizador que pode ser ter consistência:
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E protegem o cabelo da poeira, do sol, além de ajudar a controlar o volume, reduzir o frizz e a modelar os cachos.
Diferente dos cremes para pentear tradicionais, o leave-in tem uma textura mais leve e são aplicados nos fios já limpos e úmidos, sem enxágue.
A formulação do leave-in contém:
- agentes condicionantes;
- quelantes;
- emulsionantes;
- emolientes;
- espessantes.
O pH do produto irá depender do que se deseja obter. Por exemplo, para condicionadores e produtos de ação rápida (1-3 minutos) são adicionados acidulantes (reduzem o pH), que atenuam cargas eletrostáticas e ajudam a desembaraçar os fios. Já máscaras, que necessitam de um período maior de aplicação (pelo menos 15 minutos), contam com a adição de alcalinizantes de origem orgânica e inorgânica que aumentam o pH.
Esse aumento permite a abertura da cutícula para que o produto adentre tanto nela quanto no córtex agindo mais lentamente.
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A formulação do leave-in deve manter um pH ácido em torno de 3 a 4 para que as reações das matérias primas tenham eficácia.
E o volume do cabelo pode ser regulado com os cortes certos. Ou seja, cortes degradês, picotados e quadrados mantêm os fios mais longos, pesando mais e, consequentemente, diminuindo o volume. Já os cortes retos, desfiados em camadas suaves e a partir do queixo, definem melhor os cachos garantindo cabelos mais curtos.
E se você curte um Black Power…
O ideal é deixar acontecer naturalmente e depois só aplicar o leave-in para finalizar.
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Mas cuidado! Aplicar produto demais, principalmente próximo ao couro cabeludo, pode causar caspa cosmética. Tudo em equilíbrio.
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Autoras: Lethícia Carvalho Pereira, Clara Souto Ferraz, Samanta Cardozo Mourão e Emeli Moura de Araújo
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