Autores: Patrick de L. Barbosa e Emeli M. de Araújo
Os ingredientes emolientes, em cosméticos, recebem importância tanto estrutural para uma formulação, pois interfere diretamente no sensorial de um determinado produto, quanto funcional, uma vez que é um dos ingredientes mais utilizados quando se trata da composição de hidratantes.
Em se tratando de hidratação, os emolientes têm a capacidade de impedir a perda de água transepidermal, isto é, evitar com que a nossa camada mais superficial da pele perca água para o meio ambiente com facilidade, por meio da formação de um filme hidrofóbico que permite com que a água se difunda pelas diversas camadas da pele e não evapore.
Já do ponto de vista estrutural da formulação, os emolientes podem interferir no brilho, na consistência, na espalhabilidade, no sensorial e na lubrificação de um determinado produto.
No geral, eles estão presentes em emulsões, cremes, xampus, condicionadores, máscaras capilares, géis, pomadas e até mesmo maquiagem, sendo classificados de acordo com a sua estrutura química em:
- Hidrocarbonetos;
- álcoois graxos;
- ésteres e derivados de silicone.
A seguir apresentaremos os exemplos principais de cada classe.
Hidrocarbonetos
O petrolato apresenta consistência semissólida ao produto e não se oxida, enquanto o óleo mineral apresenta brilho, boa espalhabilidade, elevada tensão superficial. Ambos são os maiores representantes desse grupo e também os amplamente utilizados, em virtude da sua segurança, efetividade e baixo custo, tendo origem natural (mineral). O problema em relação ao meio ambiente é sua origem petroquímica.
As melhores alternativas sustentáveis para esses materiais são óleos, manteigas, ceras naturais ou ésteres naturalmente derivados. No entanto, não tem as mesmas propriedades emolientes que os petrolatos.
O esqualano é um outro representante que vem ganhando bastante destaque nas formulações e, inicialmente, sua origem não era sustentável pois partia da exploração animal (óleo de fígado de tubarões) ou do desflorestamento (óleo de amaranto). A alternativa sustentável é um derivado natural de base biológica, provinda de fonte renovável.
Álcoois Graxos
O álcool cetílico e o octildodecanol são os principais representantes desse grupo.
O álcool cetílico, pode ser obtido de origem animal (baleias cachalotes e golfinhos), não sendo sustentável, pois envolve exploração animal. Também pode ser obtido de forma natural do óleo de coco ou de palma, no entanto nem sempre o que é natural é sustentável se na obtenção desmatamento estiver envolvido. Enquanto o derivado semissintético envolve atividades petroquímicas (possível poluição ambiental).
O octildodecanol também pode ter fonte natural e desmatamento pode estar envolvido, e fonte sintética gerando possível poluição devido ao uso de pesados catalisadores metálicos. De um modo geral, não existe substituto sustentável para esse grupo.
Ésteres
Nesse grupo, o miristato de isopropila tem origem semissintética (vegetal ou animal) e pode estar relacionado à exploração animal e possível desflorestamento. Já o óleo de oliva tem origem natural (vegetal) e está relacionado à diminuição da produção de óleo na indústria alimentícia. Por fim, o triglicerídeo caprílico/cáprico tem origem semissintética (vegetal), por meio do óleo de coco ou de palma, estando relacionado ao desflorestamento.
Com uma abordagem crítica em termos de sustentabilidade, o uso de ésteres, mesmo obtidos de fontes naturais, pode ser questionado devido aos processos de extração e purificação normalmente associadas a este tipo de matérias-primas.
Derivados de silicones
Os principais representantes desse grupo são a dimeticona e a ciclometicona, ambos amplamente utilizados em formulações cosméticas, principalmente para garantir um sensorial e acabamento agradáveis, sendo muito presentes em maquiagens, como nos primers matificantes. Além disso, ambos apresentam origem sintética e podem gerar bioacumulação.
A alternativa sustentável para essa classe é o extrato de crispus; um derivado de quitosana derivado de cogumelo (quitosana succinamida) e um extrato de cardo mariano composto por éster etílico. Estes são projetados para dar uma sensação natural de silicone a produtos ricos em água como hidratantes.
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Referências:
- S. Bom, J. Jorge, H.M. Ribeiro, J. Marto, A step forward on sustainability in the cosmetics industry: A review. Journal of Cleaner Production, Volume 225, 2019, Pages 270-290.
- WANCZINSKI, BRUNA JULIANA; BARROS, CLAUDIA APARECIDA DIONISIO ROCHA; FERRACIOLI, DENIZE DE LOURDES. Hidratação do tegumento cutâneo. Revista Uningá, v. 12, n. 1, 2007.