Autores: Juliana L. Nepomuceno, Patrick de L. Barbosa, Emeli M. de Araújo
O que são Exossomos?
Os exossomos são pequenas vesículas liberadas por uma ampla variedade de células, incluindo as células-tronco mesenquimais, que são células multipotentes capazes de realizar autorrenovação e dar origem a vários outros tipos celulares. Estas células produzem moléculas bioativas (fatores biologicamente ativos), que são secretadas na forma de partículas de micro a nanoescala chamadas vesículas extracelulares (VE). O exossomo (Fig. 1) é uma VE com tamanho aproximado de 30 a 150 nanômetros, que transporta em seu interior proteínas, lipídios e material genético como o ácido ribonucleico (RNA), também podendo conter carboidratos (glicoproteínas, glicolipídios e polissacarídeos). Estas vesículas são liberadas pelas células na corrente sanguínea e em outros fluidos biológicos. Após sua liberação, os exossomos atuam como mensageiros, facilitando a comunicação entre as células.
Estas vesículas desempenham um papel importante em muitos processos biológicos, incluindo a modulação do sistema imunológico, transferência de sinais entre as células, reparo de tecidos através da promoção de regeneração celular e atividades anti-inflamatórias, o que as torna potenciais para uso na reconstrução de lesões na pele.
Exossomos na regeneração da pele
A cicatrização de feridas ainda é um desafio importante em condições patológicas, principalmente as feridas crônicas, que podem demorar meses ou anos para fechar. O uso de células-tronco mesenquimais é uma estratégia relevante para recuperação e cicatrização de feridas na pele. Além da habilidade de diferenciação celular, as células-tronco mesenquimais induzem a migração de células da pele, angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos) e reepitelização (regeneração da pele).
Nesse contexto, os exossomos derivados dessas células apresentam papéis biológicos fornecendo suporte à regeneração do tecido ao realocar seus conteúdos para as células ao redor, como proteínas específicas do tecido, RNA mensageiro (RNAm), microRNAs (miRNAs), citocinas e fatores de crescimento.
Relação dos exossomos com a Saúde Estética
Recentemente, os exossomos têm ganhado bastante atenção no setor de cosméticos, sendo encontrados em cremes tópicos, séruns e máscaras faciais, que estão relacionados a benefícios terapêuticos, ação rejuvenescedora, hidratação e proteção da pele. Aproveitando a capacidade regenerativa da células-troco mesenquimais, os exossomos derivados destas células também são capazes de tratar (acalmar) peles sensíveis e propensas a irritação.
As moléculas presentes nos exossomos prometem contribuir para o aumento da produção de colágeno, redução de inflamações na pele e proteção contra estresses ambientais. Essas vesículas também prometem aumentar a eficácia de outros ativos, como ácido hialurônico, peptídeos e antioxidantes.
Os exossomos têm mostrado benefícios em estudos iniciais, como no auxílio do processo de cicatrização de feridas em laboratório, estimulando as células da pele, e a produção de colágeno e elastina. No entanto, a maior parte das evidências vêm de testes em células e animais, e ainda não se sabe se funcionam da mesma forma em humanos. Além disso, há poucos estudos clínicos para confirmar a eficácia real dos exossomos e evitar outras influências nos resultados.
Como perspectiva, os estudos existentes apontam para tratamentos combinados de exossomos com diferentes procedimentos, de acordo com as disfunções estéticas: microagulhamento por radiofrequência para um reparo mais rápido da pele; laser de CO2 fracionado para melhorar a cicatriz de acne; e o uso de exossomos no tratamento da alopecia (calvície), para promover crescimento e regeneração do folículo capilar.
Exossomos e regularização sanitária no Brasil
A ANVISA classifica os exossomos como produtos cosméticos, e por essa razão, sua aplicação é exclusiva para uso tópico, não sendo recomendada a utilização na forma injetável. Apesar do uso de exossomos na dermatologia estar atraindo atenção pela sua promessa em tratamentos estéticos, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) alerta para a falta de regulamentação específica e a escassez de evidências clínicas robustas que sustentem a eficácia e segurança desses produtos em humanos na forma de injetáveis. Como discutido, a maioria das informações disponíveis provém de estudos pré-clínicos em modelos celulares e animais, o que limita sua aplicabilidade, estando essa restrita atualmente apenas ao uso tópico em cosméticos.
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Referências bibliográficas:
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